Segundo dados inéditos do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, da Associação Brasileiras das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a quantidade de resíduos sólidos urbanos destinados a lixões e aterros controlados passou de 25 milhões de toneladas para 29 milhões de toneladas por ano entre 2010 e 2019, o que corresponde a um aumento de 16%.
A associação diz que aproximadamente 10 milhões de toneladas anuais são de materiais com potencial para serem reciclados e recuperados, caso os RSU tivessem encaminhamento conforme as regras da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). "O encerramento e a recuperação de lixões são a melhor contribuição que o setor de resíduos pode dar para proteger o meio ambiente, melhorar as condições de saúde das pessoas e conservar recursos naturais, uma colaboração efetiva para a regeneração dos ecossistemas, que é o foco da Campanha da ONU para o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2021", avalia Carlos Silva Filho, diretor presidente da Abrelpe e presidente da ISWA (International Solid Waste Association).
Considerando a manutenção do cenário vigente, a Abrelpe projeta serem necessários 55 anos para que aterros controlados e lixões sejam encerrados em todo o Brasil. "A lentidão observada nos últimos 10 anos, aliada à projeção dos indicadores futuros, evidencia a extrema urgência para se viabilizar as ações necessárias para o encerramento definitivo dessas práticas medievais de destinação de resíduos, que são a principais fontes de poluição em atividade constante", observa Silva Filho.
Entre os 2.976 lixões ainda em operação no País encontram-se diversas famílias que fazem do lixo o seu sustento. Bahia e Ceará são os estados que mais concentram unidades inadequadas para disposição de resíduos. "Em plena crise sanitária, quantidades enormes de resíduos comuns, misturados a lixo hospitalar, são garimpados por mães, pais e até crianças na tentativa de ali encontrarem seu sustento, com materiais que possam gerar alguma renda ou até mesmo servir de alimento, em situação degradante e subhumana, que deveria receber mais atenção das autoridades públicas. Afinal, são vidas que estão em constante perigo", alerta o dirigente da Abrelpe.
O Panorama 2020 da Abrelpe mostra que as regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte registram índices abaixo da média nacional de destinação adequada. Na região Norte, 79% das cidades (357 municípios) ainda encaminham seus resíduos para aterros controlados ou lixões. O Nordeste concentra o maior número de cidades com destinação irregular: 1.340 municípios (74,6%) e no Centro-Oeste, 65% dos municípios (305 cidades) encaminham seus resíduos para unidades inadequadas. Esta destinação inadequada de RSU impacta a saúde de 77,65 milhões de brasileiros, e tem um custo ambiental e para tratamento de saúde de cerca de US$ 1 bilhão por ano, além de gerar uma perda econômica de R$ 14 bilhões por ano, pelo desperdício de materiais que poderiam ser reciclados e vão parar nesses locais inadequados.