Segundo estudo publicado no Journal of the Geological Survey of Brazil (JGSV), periódico científico do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), Fernando de Noronha é um dos melhores locais para mergulho do Brasil, e ações focadas nos aspectos da geologia marinha agregam ainda mais valor à atividade. O SGB/CPRM investigou a opinião de mergulhadores sobre a interpretação ambiental e aspectos da geologia marinha no arquipélago por meio de um questionário. No total, 98% dos entrevistados acreditam que tal interpretação é relevante, o que demonstra o potencial para um trabalho de sensibilização ambiental.
A interpretação ambiental tem como objetivo provocar conexões pessoais entre o público e o patrimônio protegido. No caso específico de Fernando de Noronha, determina e comunica o significado de um fenômeno, acontecimento ou local geológico e geomorfológico. Pesquisas sobre a interpretação da geodiversidade marinha ainda são escassas. O estudo denominado ‘The opinion of divers on the interpretation of marine geology in the archipelago of Fernando de Noronha, Brazil’ é dos pesquisadores Tatiane Ferrari do Vale (Grupo Universitário de Pesquisa Espeleológica - GUPE), Rafael Altoe Albani (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) e Jasmine Cardozo Moreira (Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG). Eles aplicaram questionário online entre abril de 2018 e maio de 2019, para 100 indivíduos que haviam praticado mergulho autônomo no arquipélago pelo menos uma vez.
Entre os participantes que responderam a pesquisa, 83% afirmaram ter recebido informações sobre a flora e fauna marinhas, 30% sobre geologia marinha, 11% não receberam nenhuma informação e 5% não conseguiram lembrar se receberam. Em relação a informações, 85,7% afirmaram ter recebido algum tipo de informação e indicaram que foi facilmente identificada durante o mergulho, enquanto 14,3% afirmaram que não.
26% dos mergulhadores afirmaram estar faltando fauna e flora marinha, enquanto 60% citaram geologia marinha e 11% relataram não ter sentido falta de nenhuma informação específica. Em relação às informações disponibilizadas, 87,1% afirmaram que foram fornecidas por briefing antes do mergulho; 34,1%, em conversa após o mergulho, e as demais respostas corresponderam a 11%. "Há diversos trabalhos que abordam a interpretação da biodiversidade, no entanto ainda não é comum, no Brasil, o uso de meios interpretativos que valorizem a geodiversidade marinha", afirma a pesquisadora Tatiane. Ela explica que os dados obtidos na pesquisa não podem ser generalizados, mas contribuem com a temática em questão, tanto no âmbito acadêmico quanto da gestão das Unidades de Conservação em Fernando de Noronha.
Para os pesquisadores, um dos pontos preponderantes da geoconservação é a possibilidade de conservar o patrimônio geológico e permitir que público leigo conheça e interprete lugares especiais do ponto de vista geológico, paleontológico, cultural. "Esses locais, denominados de geossítios, são verdadeiros laboratórios ao ar livre. O geoturismo, como uma modalidade de turismo sustentável, pode promover emprego e renda para as comunidades locais que passam a valorizar e contribuir com o uso sustentável", afirmam.
A edição especial do JGSB reuniu trabalhos sobre a geoconservação no âmbito nacional e local, contribuindo para o conhecimento e divulgação geocientífica de temas como geoética, geoturismo e geo-interpretação. Além disso, há trabalhos que ajudam com o conhecimento empírico, para que o conhecimento acadêmico seja aplicado no âmbito da gestão, como por exemplo, de áreas protegidas.