O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) divulgou nota em que diz que o Brasil entra pela porta do fundo na Cúpula do Clima. "Infelizmente, neste momento o papel do antagonista climático veste como luva no Brasil, devido a ações que se chocam com o que se espera dos países, ou seja, o controle das mudanças climáticas. Não precisaria ser assim: temos conhecimento e experiência para reduzir o desmatamento, nossa principal contribuição para o efeito estufa", afirma o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães.
Na nota, o IPAM diz ainda que, por mais que Bolsonaro prometa um desmatamento ilegal zero até 2030, neutralidade de emissão de carbono em 2050 e a necessidade de se dialogar com comunidades tradicionais e a sociedade civil, faltam medidas contra a grilagem em florestas públicas e apoio a ações de comando e controle no campo, além do aumento das emissões de gases estufa com o desmatamento e um sistemático ataque a comunidades tradicionais e à sociedade civil. "Perdemos o protagonismo internacional que já tivemos neste campo. Além disso, desdenhar da nossa responsabilidade como grande emissor de gases estufa e prometer metas sem planos consistentes e práticas contrárias é perder espaço no mercado das commodities agrícolas e deixar passar as oportunidades que se abrem com uma nova economia global voltada para a baixa emissão de carbono", diz Guimarães.
Um exemplo disto é o lançamento conjunto por Noruega, Reino Unido e Estados Unidos do programa Leaf ou Reduzindo Emissões pela Aceleração do Financiamento Florestal, na sigla em inglês. Com valor inicial de US$ 1 bilhão para projetos de preservação de florestas tropicais e subtropicais no mundo, o projeto une governos e empresas para apoiar países, estados e municípios que reduzem com sucesso e ambição as emissões de gases associadas ao desmatamento e à degradação florestal em todo o planeta. O programa Leaf é um passo concreto para um novo mercado global de commodities verdes, e outros países com florestas tropicais que mostram mais firmeza em suas ações de conservação sobem na lista de prioridade. Antigamente, o Brasil tinha lugar garantido em iniciativas do gênero, mas atualmente é visto com desconfiança sobre sua capacidade de entrega. "Falar que o Brasil emite poucos gases estufa em relação aos outros países e fazer promessas sem mostrar serviço fecham portas. Ninguém vai enviar recursos para proteger florestas no país se antes não expomos planos e práticas consistentes", explica o diretor-executivo do IPAM. "Além disso, os principais mercados exigem compromisso com o combate às mudanças climáticas, numa tendência de crescimento. Já fomos líderes; hoje nossa posição de pária nos descredencia a investimentos e compromete nosso futuro. Perde o país, mas principalmente perdem os brasileiros."