Pantanal tem desmatamento três vezes maior até abril
Segundo dados do Mapbiomas, o Pantanal atingiu 19,1 mil hectares de vegetação suprimida no primeiro quadrimestre de 2023, um índice recorde para o período e quase três vezes maior do que os 6,9 mil hectares do mesmo quadrimestre de 2022. Entre janeiro de 2019 e abril de 2023 foram desmatados mais de 120 mil hectares no Pantanal (quase uma cidade de São Paulo), dos quais quase 109 mil hectares, cerca de 90%, ocorreram no Mato Grosso do Sul. O Instituto SOS Pantanal afirma que este crescimento é resultado de uma legislação pouco efetiva e muito permissiva, que legitima até 60% de substituição da vegetação original para fins de cultivo e pecuária.
Uma análise realizada elo SOS Pantanal a partir de levantamento feito pelo Ministério Público (MS) constatou que as licenças ambientais emitidas pelo IMASUL – Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul seguem sendo extrapoladas. “São três pontos principais que me deixam bem preocupados: 1) O desmatamento no Pantanal está crescendo muito e não vemos sinal algum de diminuição pela frente. 2) Boa parte desse desmate feito é com autorização dos órgãos ambientais, graças a uma legislação super permissiva e 3) mesmo com as licenças para supressão de grandes áreas, dados do Ministério Público mostram que o desmatamento foi em média 25% superior do que o permitido nas licenças”, adverte o biólogo e Diretor de Comunicação do SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa.
Para combater esse desmatamento, especialistas do SOS Pantanal afirmam que são necessárias ações urgentes como a disponibilização on-line das licenças de supressão vegetal emitidas pelo IMASUL, a ampliação das fiscalizações realizadas pelas entidades ambientais, a criação de uma lei federal que proteja o bioma e a criação de um programa de prevenção e controle do desmatamento no Pantanal. De acordo com a compilação de dados feita pelo instituto SOS Pantanal, através dos dados de monitoramentos feitos por entidades governamentais, como o LASA (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais) do Departamento de Meteorologia da UFRJ, no segundo semestre de 2023 o Pantanal também pode sofrer graves consequências do desequilíbrio climático provocado pelo fenômeno El Niño. “As condições atuais de seca para a região do Pantanal indicam maior propensão do fogo na parte norte do bioma”, confirma Renata Libonati, meteorologista do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais – LASA, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
O cenário só não é mais grave graças ao recente ciclo de chuvas em microbacias que banham a parte sul do Pantanal, uma área que corre menos risco. Mas o impacto da seca, que deve ser intensificado com o El Niño, sobretudo em agosto e setembro, tem motivado esforços do SOS Pantanal para que ações preventivas, como um incremento das brigadas de incêndio e uma intensificação do monitoramento climático, sejam imediatamente coordenados. “Uma vez que é impossível frear o El Niño, o que nos resta é mitigar os efeitos desse impacto adicional, principalmente os incêndios florestais. Por isso, desde o começo de julho o SOS Pantanal está treinando as brigadas pantaneiras. Estamos fazendo uma rodada de reciclagem, renovando materiais e fortalecendo as equipes para que elas estejam prontas para um eventual combate”, explica Figueirôa. O SOS Pantanal também desenvolve um novo sistema de monitoramento via satélite, que enviará alertas automáticos para moradores e voluntários cadastrados nas áreas de atuação das brigadas.