Tecnologia social trata o esgoto de comunidades

24/03/2022
Pesquisador desenvolveu a Fossa Alta Comunitária (FAC), uma tecnologia adaptada especificamente para áreas alagáveis da região.

O esgotamento sanitário é um desafio para as comunidades rurais na Amazônia devido a diferentes fatores, como o ciclo sazonal das cheias e vazantes, o deslizamento de encostas e, em muitos casos, o acesso exclusivamente hidroviário. Para oferecer às famílias ribeirinhas um sanitário para uso com dignidade, privacidade, conforto, e que combata os problemas de saúde relacionados à falta de saneamento, o pesquisador do Instituto Mamirauá, doutor em saneamento João Paulo Borges Pedro, desenvolveu a Fossa Alta Comunitária (FAC), uma tecnologia adaptada especificamente para áreas alagáveis da região, sendo uma importante barreira entre os patógenos do esgoto e os moradores.

“Trata-se de uma experiência bem-sucedida de aplicação de uma tecnologia social, em região amazônica, para a solução do problema de saneamento de esgoto doméstico em áreas remotas”, destacou a coordenadora de Tecnologia Social do Inpa, Denise Gutierrez. 

A Fossa Alta Comunitária é composta por um tanque séptico circular de fibra de vidro ou polietileno, um filtro anaeróbio circular de polietileno, com meio filtrante formado por cacos de tijolo, um sumidouro circular e uma base elevada em concreto. 

Em termos de funcionamento, as águas residuais do vaso sanitário são direcionadas para o tanque séptico, onde passam pelo processo de decantação, sedimentação e digestão anaeróbia. Em seguida o efluente pré-tratado é direcionado para o filtro anaeróbio de fluxo ascendente, passando por processos de retenção de partículas e ação metabólica de microrganismos presentes no biofilme do meio suporte. Após esse tratamento o efluente já clarificado é direcionado para um sumidouro. 

Além do tratamento, João Paulo explica que há a instalação de sanitários nas residências, incluindo caixa d’água de 300 litros, caixa de descarga, vaso sanitário, pia com torneira e estrutura de madeira. As famílias ainda podem escolher o melhor arranjo quanto à altura da superestrutura (‘casinha’), acesso por rampa ou escada, sanitário dentro ou fora de casa, possuir ou não portas e janelas com telas de mosquiteiros, cores de pintura interna e externa, e instalação de chuveiro.

O sistema pode tratar o esgoto de até quatro residências ao mesmo tempo, reduzindo assim o custo do orçamento per capita (por pessoa). O próprio Instituto Mamirauá é quem identifica e faz o diálogo com as comunidades beneficiárias. O custo de cada sistema fica entre R$ 10 mil e R$ 12 mil. 

A Fossa Alta Comunitária já foi instalada em duas localidades de várzea, atendendo no total 253 moradores. Na Comunidade Santa Maria, município de Tefé (AM) foram instaladas três unidades – a cobertura de tratamento de esgoto no local passou de 0% para 20%; São Raimundo do Jarauá, em Alvarães (AM), recebeu duas unidades que cobrem 100% da demanda de tratamento de águas de vaso sanitário. 

Entre os benefícios da tecnologia, João Paulo destaca o conforto, comodidade e segurança para os moradores, que não necessitam mais ir ao mato fazerem suas necessidades, principalmente à noite ou na chuva. 

O funcionamento do sistema de tratamento será compartilhado na Live “Fossa Alta Comunitária: Uma tecnologia social para o saneamento na Amazônia”, no próximo dia 31 de março (https://www.even3.com.br/LiveInpaFossaAltaComunitaria).