Apesar dos esforços contra a aplicação de materiais de uso único, cerca de 720 milhões de copos descartáveis vão parar nos lixões todos os dias no Brasil. A estimativa é da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP). Esse é só um dos números que refletem o dano à infraestrutura das cidades, que sofrem com entupimentos de bueiros, sujeira nas ruas e o aumento do risco de enchentes. Atualmente, o plástico é responsável por 80% do lixo jogado nos oceanos, de acordo com o recente estudo global publicado na revista científica Nature Sustainability.
Diante disso, levanto a bandeira de que a substituição do plástico de uso único pelo papel em embalagens é urgente. Essa é uma atitude necessária no Brasil e no mundo, e já vem sendo abraçada por grandes marcas de bens de consumo que estabeleceram metas ousadas de troca de matéria-prima até 2025 e 2030. Esse é um processo complexo, mas que se torna viável com linhas de alto investimento em inovação.
Um movimento exemplar foi realizado pelo Parlamento Europeu em 2021, ao proibir o uso desse tipo de plástico, muito utilizado em talheres, canudinhos e cotonetes, por exemplo. A decisão levou à taxação pelo Reino Unido, a partir de abril deste ano, as empresas que fabricam ou importam itens plásticos que não contenham no mínimo 30% de plástico reciclado. Espanha e Portugal foram na mesma direção, e a partir de janeiro de 2023 as embalagens em plástico não reciclável serão taxadas. Na França, a prioridade foi banir embalagens plásticas para frutas e verduras.
A América Latina não ficou para trás: o Peru já baniu o plástico de uso único em 2021 e o Chile concedeu prazo até 2024 para restaurantes fazerem o mesmo; México, Colômbia e Uruguai igualmente tomaram medidas restritivas. No Brasil, a cidade do Rio de Janeiro foi pioneira ao banir o canudo plástico ainda em 2018, medida ampliada por São Paulo a todos os utensílios de plástico em bares e restaurantes em 2021 – em julho deste ano, regulamentou as multas a quem distribuir canudos plásticos. Outros locais do país seguem o exemplo.
Apesar do despertamento de governos, que inclui medidas tomadas por outras regiões do globo, como China, Canadá e Índia, vejo que uma real mudança de mentalidade ainda se faz necessária – pois o ideal seria que o próprio usuário tomasse atitudes ambientais, sem a necessidade de uma lei que o obrigue a isso.
Ao mesmo tempo, trabalhamos arduamente para incentivar a indústria da reciclagem nos caminhos da economia circular, pois é possível – e necessário – dar um destino mais nobre e sustentável aos resíduos, principalmente devolvê-los à cadeia produtiva e transformá-los em dinheiro, o que aumenta a renda de diversas famílias brasileiras.
Essa é a meta de projetos que admiro e que ajudo a desenvolver: incluir cooperativas de catadores e startups na cadeia produtiva, as quais já foram responsáveis pelo envio para reciclagem de mais de 200 mil copos de papel no país e que precisam seguir disseminando essa boa prática.
Ao colocar em ação a economia circular, acredito verdadeiramente que o brasileiro não só melhora sua relação com o meio ambiente, como dará o exemplo aos países vizinhos. É um jogo que só tem vencedores: os fabricantes, as cooperativas, as cidades e… você, consumidor!
* Júlio Jubert Caiuby Guimarães é diretor comercial da Ibema