Chefe do Clima da ONU pede meta de financiamento ambiciosa
O chefe do clima da ONU Simon Stiell disse aos negociadores na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024 (COP29), que acontece entre os dias 11 e 22 de novembro realizada em Baku, que após mais um grave ano de calor intenso e eventos climáticos extremos, os negociadores devem definir uma nova meta ambiciosa de financiamento climático para o bem-estar de todas as nações – inclusive as mais poderosas e mais ricas. “Vamos acabar com qualquer ideia de que o financiamento climático é caridade. A mudança climática descontrolada está impactando cada indivíduo no mundo de uma forma ou de outra”. Para Stiell é necessário que os países estabeleçam uma nova meta anual de financiamento climático para substituir a promessa de US$ 100 bilhões definida em 2009, que expira no final do ano e que muitos dizem ser muito menos do que o necessário para lidar com o rápido aumento das temperaturas do ar e do mar. O Sr. Stiell ressaltou que o processo da UNFCCC “é o único lugar onde podemos abordar a crise climática desenfreada e responsabilizar uns aos outros de forma credível para agir sobre ela. E sabemos que esse processo está funcionando. Porque sem ele, a humanidade estaria caminhando para cinco graus de aquecimento global”.
O chefe do clima da ONU disse que todos os países pagariam um preço terrível se pelo menos dois terços dos países do mundo não pudessem reduzir rapidamente suas emissões. Além disso, toda a economia mundial pode entrar em colapso se os países não conseguirem fortalecer suas cadeias de suprimentos diante do aumento dos custos associados aos choques climáticos, como a queda dos níveis de água no Canal do Panamá, que teve um impacto dramático nos volumes de transporte. “Estou tão frustrado quanto qualquer um que em uma única COP não consiga entregar a transformação completa que cada nação precisa. Mas aqui as Partes precisam concordar com uma maneira de sair dessa confusão. É por isso que em Baku, precisamos concordar com uma nova meta global de financiamento climático”. O Sr. Stiell é natural de Granada, onde sua ilha natal, Carriacou, foi quase devastada pelo furacão Beryl em julho passado.
Com a abertura da COP29, a agência meteorológica da ONU, a OMM, divulgou Atualização do Estado do Clima 2024 e emitiu um Alerta Vermelho sobre a rápida progressão das mudanças climáticas em uma única geração, impulsionada pelo aumento dos níveis de gases de efeito estufa na atmosfera. Os anos de 2015-2024 marcarão a década mais quente já registrada, com uma perda acelerada de gelo glacial, elevação do nível do mar e aquecimento dos oceanos. O clima extremo está causando perturbações significativas em comunidades e economias em todo o mundo. De janeiro a setembro de 2024, a temperatura média global do ar na superfície foi 1,54 °C (±0,13 °C) acima da média pré-industrial, amplificada pelo aquecimento do El Niño, de acordo com uma análise de seis conjuntos de dados internacionais usados pela OMM. “A catástrofe climática está abalando a saúde, aprofundando as desigualdades, dificultando o desenvolvimento sustentável e abalando os alicerces da paz. Os mais vulneráveis são os mais duramente atingidos”, afirmou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres.
O presidente da conferência do clima, ministro da Ecologia do Azerbaijão, Mukhtar Babaiev, usou seu discurso na abertura para dizer que o “mundo está a caminho da ruína”. “Estamos a caminho da ruína. E não se trata de problemas futuros. A mudança climática já está aqui. Precisamos muito mais de todos vocês. A COP29 é um momento da verdade para o Acordo de Paris”. O enviado para o clima dos Estados Unidos, John Podesta, pediu que governos do mundo todo mantenham a fé na promessa do país de combater o aquecimento global, acrescentando que Donald Trump pode atrasar, mas não parar, a transição dos combustíveis fósseis quando assumir a Presidência dos Estados Unidos, em janeiro. “Para muitos de nós dedicados à ação climática, o resultado da semana passada nos Estados Unidos é obviamente uma decepção amarga”, disse Podesta na cúpula. “Mas o que quero dizer a vocês hoje é que, enquanto o governo federal dos Estados Unidos, sob Donald Trump, não pode deixar a ação climática em segundo plano, o trabalho para conter as mudanças climáticas vai continuar nos Estados Unidos”.
Segundo Podesta, a Lei de Redução da Inflação (IRA), legislação climática do presidente Joe Biden que oferece bilhões de dólares em subsídios para a energia limpa, continuará a impulsionar investimentos em tecnologias solares, eólicas e outras, e que os governos estaduais dos EUA também devem promover cortes de emissões por meio de regulamentações. “Não acho que nada disso seja reversível. Pode ser desacelerado? Talvez. Mas a direção é clara”, afirmou.
Embora Trump tenha prometido revogar a IRA, isso exigiria um ato do Congresso – o que pode ser difícil devido ao apoio de alguns parlamentares republicanos cujos distritos se beneficiam de investimentos vinculados à IRA. Além da eleição de Trump como presidente da maior economia do mundo, as negociações em Baku disputam a atenção com preocupações econômicas e as guerras na Ucrânia e em Gaza. Isso complica a ambição da cúpula de resolver o principal item da agenda – um acordo de até US$ 1 trilhão em financiamento climático anual para países em desenvolvimento, no lugar da meta anterior de US$ 100 bilhões. 2024 caminha para ser o mais quente já registrado. Países ricos e pobres enfrentaram eventos climáticos extremos, incluindo inundações desastrosas na África, na costa da Espanha e no estado da Carolina do Norte, nos EUA, além de uma seca que afeta a América do Sul, o México e o oeste dos EUA.