CNPEM e Reservas Votorantim vão mapear microfauna brasileira
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e a Reservas Votorantim (RV) assinaram acordo de parceria para a bioprospecção de herbívoros e microrganismos da Mata Atlântica, incluindo bactérias, leveduras e fungos. O trabalho conjunto tem como foco a realização de pesquisas no Legado das Águas (LA) a princípio, maior reserva privada de Mata Atlântica do país, com 31 mil hectares, localizada no Vale do Ribeira, interior de São Paulo e, futuramente, pode se estender para outros dois territórios geridos pela RV, no Cerrado e no Pantanal.
A iniciativa integra o projeto maior do CNPEM para mapear geneticamente a microfauna de biomas brasileiros com potencial biotecnológico. As bases de dados que vêm sendo construídas devem ser disponibilizadas para pesquisadores em breve. Os cientistas poderão consultar genomas recuperados das amostras ambientais por espécie, genes com predições funcionais e rotas metabólicas associadas, contribuindo não só para a conservação ambiental, como também para o desenvolvimento de biocombustíveis, bioquímicos, bioinsumos, medicamentos e outros produtos que beneficiem a saúde humana, o meio ambiente e a economia. “O Brasil abriga uma das maiores biodiversidades do planeta em seis grandes biomas, porém, a vasta maioria da vida microbiana existente é desconhecida e tecnologias atuais no estado-da-arte permitem recuperar essas informações com alta qualidade e profundidade”, explica Mário Tyago Murakami, pesquisador do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) do CNPEM, que integrou a primeira expedição do Centro ao Legado. “Com a informação do mapeamento genético é possível pesquisar novas soluções biotecnológicas inspiradas na natureza que poderão, por exemplo, viabilizar a produção de energia limpa, mitigar o uso de agrotóxicos na agricultura e desenvolver medicamentos para doenças como o câncer, destaca.
A parceria entre CNPEM e Reservas Votorantim marca um avanço nas pesquisas sobre a Mata Atlântica ao unir esforços para o mapeamento genético dos biomas brasileiros, que ampliam o conhecimento científico e promove novas descobertas. “Acreditamos que aliar pesquisa científica ao desenvolvimento de negócios da economia verde é a chave para potencializar a proteção das florestas no Brasil e no mundo. Floresta em pé é oportunidade e o Legado das Águas é prova disso. Nossas atividades econômicas vão de produção de plantas, fomento de oportunidades com a biodiversidade à geração de crédito de carbono, mostrando que soluções baseadas na natureza são o caminho para um desenvolvimento sustentável”, comenta David Canassa, diretor da Reservas Votorantim, gestora do Legado. Para o diretor-geral do CNPEM, Antonio José Roque, o projeto gera conhecimentos importantes para subsidiar a bioeconomia: “Dados de informação genética da biodiversidade brasileira podem fomentar pesquisas em agricultura, biotecnologia industrial, saúde, energia e meio ambiente. A ciência é central para posicionar o Brasil na vanguarda do desenvolvimento sustentável e da transformação ecológica que será necessária para o futuro”.
A primeira expedição de coleta de espécimes no Legado das Águas foi realizada no início de julho, focada em fungos para sequenciamento genético, e nela foram identificados mais de 20 tipos em uma única trilha. Uma nova expedição está prevista para novembro. Além de fungos, a parceria inclui em uma primeira fase, a pesquisa da microbiota de espécies da fauna da Mata Atlântica, como a capivara, a anta e o muriqui-do-sul, um macaco herbívoro com alto risco de extinção. O CNPEM mantém também um acordo com o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) para bioprospecção de herbívoros e microrganismos no bioma.