Entre avanços e impasses, Bonn reforça urgência de resultados na COP30

29/06/2025
Diálogos sobre clima e biodiversidade ganham força, mas falta de ambição em financiamento climático exige resposta firme em Belém

A Conferência de Bonn, na Alemanha, considerada uma pré-COP30, terminou dia 26 de junho com um resultado morno e manteve viva a meta de transição energética para longe dos combustíveis fósseis, como parte da transição justa. Entretanto, não conseguiu aumentar a ambição da meta de financiamento. No balanço geral, Bonn termina com poucos avanços, jogando urgência de ação para Belém.

Entre os pontos positivos, a especialista em política climática do Greenpeace Brasil, Anna Cárcamo, destaca: “Apesar de alguns países terem tentado incluir a continuação do uso de combustíveis fósseis, o texto final sobre transição justa inclui uma referência à transição energética ‘para longe dos combustíveis fósseis’ de forma justa, considerando o acesso amplo e a segurança energética. Agora precisa ir além e partir para a implementação’”. O Greenpeace também cita entre os pontos positivos de Bonn os diálogos terem apontado necessidade de sinergia entre agendas de biodiversidade e clima, o que pode resultar em uma maior proteção integral de florestas. “Abordar a sinergia entre as agendas de biodiversidade e climática abre espaço para começar discussões sobre a meta global pelo fim do desmatamento até 2030, essencial para que o Acordo de Paris tenha sucesso”, diz Anna.

A Conferência na Alemanha incluiu ainda na agenda de Mitigação recomendações que saíram do diálogo sobre florestas na Conferência do Panamá, que abordou temas como a proteção e restauração de ecossistemas, a proteção de terras indígenas e de comunidades tradicionais, o manejo integrado do fogo e a consideração de florestas para além do carbono, incluindo a biodiversidade e serviços ecossistêmicos. “Com isso, na COP30, o Brasil tem uma grande oportunidade de explorar um destes caminhos e trabalhar para materializar a meta global pelo fim do desmatamento até 2030 e deixar um legado para as florestas do mundo todo”, comenta a especialista.

A agenda de financiamento climático continua travada e polarizada entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. “Mesmo que os países em desenvolvimento tenham demonstrado a sua insatisfação com a meta de financiamento climático insuficiente adotada na COP29, vimos que o tema foi usado em Bonn como moeda de troca pela diminuição de ambição dos países. Isso significa que Belém precisará retomar temas como o alinhamento dos fluxos financeiros a uma economia de baixo carbono e fortalecer o financiamento público na Rota de Baku a Belém para 1.3 trilhões de dólares anuais para financiamento climático e, assim, destravar a implementação do GST, incluindo a mitigação, adaptação e perdas e danos. Sem financiamento climático, não há ambição nem implementação!”, afirma. A porta-voz alerta que pontos positivos do texto dos diálogos para implementar o Balanço Global do Acordo de Paris (GST, em inglês), aprovado em 2023 e sem adoção até o momento, sofreu regresso em Bonn, e isso precisará ser revertido em Belém.

“Em Bonn, o Brasil demonstrou disposição para ouvir, engajar todas as partes e buscar consenso, mobilizando diplomatas experientes e mantendo um diálogo persistente desde o início. No entanto, impasses geopolíticos e decisões lentas mostram que a diplomacia climática precisa ir além da boa vontade. Além disso, o Brasil tem todas as condições para ser não apenas um bom ouvinte e facilitador, mas também um catalisador da ambição e mostrar que a cooperação global é possível”, diz a especialista em política internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim. “A COP30 pode ser um marco, mas precisa combinar habilidade diplomática com uma visão ousada, pressionando por resultados tangíveis e lembrando ao mundo que, enquanto alguns investem em guerras, a verdadeira batalha deve ser contra a crise climática”, completa Jardim.