Mara Fornari
Considerando as metas arrojadas de universalização do saneamento até 2033 e as oportunidades que se abrem em cinco estruturações feitas pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) para o Amapá, Região Metropolitana de Maceió, PPP de Cariacica (ES), Cedae e Porto Alegre, a cadeia de fornecimento para este setor não terá do que se queixar – serão R$ 38 bilhões de investimentos nos próximos anos. Ainda assim, a cifra é bastante modesta perto das projeções consideradas pela Abcon/Sindcon (Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto/Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto) para atender a todas as concessões pelos próximos 35 anos.
Partindo dos R$ 38 bilhões projetados pelo BNDES, R$ 3 bilhões serão investidos no Estado do Amapá (em 16 municípios); R$ 2,56 bilhões em 13 municípios da Região Metropolitana de Maceió (AL); R$ 580 milhões na PPP de Cariacica (ES); R$ 29,7 bilhões nos quatro blocos da Cedae, que compreendem 35 municípios; e R$ 2,18 bilhões em Porto Alegre.
Para identificar se existe condição de suprir a demanda estimada, as entidades Abcon e Sindcon, em parceria com a Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), realizaram, no início de julho, o evento “Marco Legal do Saneamento – Oportunidades para a Cadeia de Fornecimento”, que trouxe informações importantes de um estudo que está sendo realizado pelo BNDES. Os debates foram patrocinados pelas empresas: Acciona, Aegea Saneamento, BRK Ambiental, Sabesp, Engetec, Pieralisi e Tigre.
Conforme informou Flávio Moraes da Mota, Chefe do Departamento de Indústria de Base Extrativa do BNDES, “como estruturador de alguns projetos de licitação, o Banco buscou analisar o impacto desses investimentos sobre a cadeia de fornecedores pois, a partir do momento que o Marco do Saneamento estabelece metas, as concessionárias têm a liberdade de optar pelas soluções e tecnologias que mais lhes atendem”. A expectativa da instituição é publicar o estudo completo até o final do ano, com o mapeamento da capacidade da cadeia de fornecedores e a previsibilidade do tempo de investimento, para que os concessionários possam tomar suas decisões de investimentos e, desta forma, aumentar o nível dos serviços prestados de água e esgoto para a maior parte da população brasileira.
O mapeamento de bens industriais demandados em estruturações no BNDES foi apresentado pela Gerente Industrial Sabrina Schneider Martinez. O levantamento de dados foi baseado em cinco de sete projetos que o BNDES está estruturando, conforme já mencionamos, e levou em consideração o estágio de maturidade de cada um e suas demandas previstas exclusivamente em tubulação e equipamentos (Capex) e produtos químicos (Opex).
A soma desses três insumos industriais totalizou R$ 11 bilhões, sendo: R$3,8 bilhões em tubulação (desmembrados em R$ 2,18 milhões para água e R$ 1,624 bilhão para esgoto), R$ 2,8 bilhões em produtos químicos (R$ 1,499 bilhão para água e R$ 1,257 bilhão para esgoto) e R$ 4,5 bilhões em equipamentos (R$ 3,248 bilhões para água e R$ 1,259 bilhão para esgoto). Sabrina explica que a meta de redução do índice de perdas de 40% para 25% e algumas características dos projetos para distribuição e tratamento de água acaba tornando esse valor maior do que os investimentos em esgoto no conjunto das cinco estruturações.
Observando a alocação dos três insumos industriais nos tipos de obra, Sabrina ressalta que os equipamentos estão muito presentes nas ligações e estações de tratamento de esgoto, os produtos químicos em ETAs e ETEs e as tubulações na expansão e/ou implantação de redes e adutoras.
Tubos
“Falando especificamente de tubulação, a distribuição dessa demanda nas cinco estruturações ao longo do tempo mostra grande concentração de investimentos até 2033, em virtude das metas do marco do saneamento, que estipulam indicadores de atendimento de 99% da população com acesso à água e 90% com esgoto”, pontua a Gerente Industrial do BNDES. “Dos R$ 4 bilhões de investimentos até 2057, considerando uma média de concessão de 35 anos, R$ 3,4 bilhões, ou 85%, devem ser realizados até 2033. Isso significa a implantação total de 33 mil km de tubulações nesse horizonte, sendo 28 mil km até 2033. A distância equivale a quatro vezes e meia a faixa litorânea brasileira. Além da concentração de investimentos até 2033, é preciso observar o salto previsto de 2021 para 2022 e de 2022 para 2023 na demanda por tubulação nesses cinco projetos”, prossegue ela.
Considerando as demandas de forma isolada e um horizonte de tempo até 2040, o investimento em tubos de água corresponde a R$ 2,2 bilhões para implementação de 12.800 km e R$ 1,6 bilhão para tubos de esgoto (20.500 km). Por tipo de obra, as tubulações estão bastante presentes nas redes e adutoras de água e em ligações, recalque, redes, coletores-tronco e emissários de esgoto.
Quanto ao tipo de material de tubo demandado nos projetos, o estudo dividiu as tubulações em até 500mm de diâmetro e acima de 500mm. Até esta dimensão, o BNDES identificou em metragem o uso de 96% dos tubos em plásticos e 4% em materiais metálicos. Para tubulações acima de 500mm, a predominância em termos de metragem se dará por tubos metálicos (67%), seguidos de plásticos (21%) e concreto (12%). Já em termos de valores, os tubos de concreto representam uma participação de apenas 2%.
Por tipo de obra, os tubos metálicos serão mais demandados nas estações de tratamento de esgoto e nos reservatórios e adutoras de água. O concreto será mais utilizado nos interceptores de esgoto e os tubos de plásticos permeiam vários dos investimentos, estando bastante presentes nas redes e ligações de água.
De acordo com Sabrina, a análise por material e diâmetro dos tubos mostra que na parte de esgoto a maior demanda será por tubos plásticos (PVC) entre 100mm e 200mm, ficando a preferência de tubos de concreto e PEAD para diâmetros acima de 500mm. Para investimentos em água, haverá predominância de tubos plásticos (PVC e PEAD) nos diâmetros entre 50mm e 150mm e de tubos metálicos acima de 500mm. “Como os tubos de concreto não podem ser pressurizados, eles aparecem de forma mais acentuada nos investimentos em esgoto”, pontua a especialista do BNDES. Considerando a distribuição anual até 2034, o protagonismo na demanda ficará com os tubos de 150mm. O investimento para os tubos de até 50mm irá se concentrar entre os anos de 2022 e 2023, com pico acentuado em 2027.
Leia a reportagem completa na edição 198 de Saneamento Ambiental