O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou o sexto Relatório de Avaliação sobre o clima, que traz dois alertas importantes: o primeiro é a conclusão de que seres humanos provavelmente causaram a quase totalidade do aquecimento global observado no último século, enquanto o segundo é que, dos cinco cenários de emissão avaliados, apenas um nos dá alguma chance de manter viva a meta do Acordo de Paris de estabilizar o aquecimento em 1,5oC — e, mesmo assim, ele envolve amargar algumas décadas de temperaturas acima do limite a partir dos anos 2030.
Esses dois pontos serão debatidos pelos chefes de Estado e diplomatas que se reunirão a partir de 31 de outubro em Glasgow, Escócia, para mais uma rodada de negociações de clima. Todas as partes precisarão aumentar radical e imediatamente a ambição das metas nacionais de corte de gases de efeito estufa (NDCs) postas sobre a mesa para 2030, ao mesmo tempo em que terão de reforçar o apelo para que o mundo caminhe da emissão zero em 2050. "A linguagem do relatório é muito forte e reflete o sólido consenso científico sobre o problema. O IPCC diz claramente que é inequívoca a interferência humana no clima. Não é mais um debate sobre se as ações humanas dão causa à crise climática, mas do quanto. E o quanto, estimado pela primeira vez é estarrecedor: fomos responsáveis por 1,07oC do total de 1,09oC do aumento da temperatura desde a era pré-industrial", diz Stela Herschmann, especialista em Política Climática do Observatório do Clima. "Além do mais, apesar de dizer que a chance de 1,5oC ainda existe, o documento também mostra que a janela para isso é estreita, e não comporta governos negacionistas”.
O Brasil entrará na COP26 ainda mais pressionado, após ter reduzido a ambição da própria meta relativa à questão ambiental. Jair Bolsonaro deve conquistar em Glasgow o status de ameaça climática global. "Os resultados do IPCC implicam que a redução drástica do desmatamento na Amazônia será um elemento essencial da conta da estabilização do clima nos próximos anos. Para azar da humanidade, o presidente do Brasil é Jair Bolsonaro, que quer ver a floresta no chão. Para azar de Bolsonaro, os brasileiros e o resto do mundo não vão aceitar isso calados", afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do OC. O documento completo do IPCC pode ser acessado pelo site www.ipcc.ch.