Um estudo do Programa de Investimentos Verdes no Brasil (BGFP, na sigla em inglês) aponta que são necessários R$ 3,6 trilhões em obras de infraestrutura sustentável, a serem investidos em setores como saneamento e gestão de resíduos sólidos para que o Brasil atenda, em 2033, a universalização proposta pelo novo Marco Legal do Saneamento Básico, que prevê água potável a 99% da população brasileira e serviço de esgotamento sanitário a 99% dos habitantes.
O Reino Unido pretende investir em infraestrutura que atenda aos critérios ESG – o que é um bom sinal para o Brasil para atrair projetos e alavancar seu desenvolvimento sustentável caso trabalhe na construção de um ambiente favorável. O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) realizou levantamentos de áreas potenciais para agregados de construção, onde são mineradas matérias-primas para o setor. “Para obras públicas como as de saneamento, é importante que haja reservas minerais como areia e brita a menos de 100 km de distância dos centros consumidores”, explica Michel Godoy, responsável pela Divisão de Minerais Industriais (DIMINI) do SGB-CPRM, que executa projetos nessa temática. Uma parte das regiões metropolitanas com os piores índices de saneamento básico têm seus recursos minerais para construção civil mapeados pela empresa, o que contribui para a atração de investimentos no setor e para incentivar na elaboração de planos de gestão territorial em áreas de interesse mineral.
O presidente do SGB-CPRM, Esteves Colnago, diz que o ESG é um novo paradigma que determina o posicionamento das empresas mundiais em relação à sustentabilidade. “No que refere aos investidores, já que o setor mineral é altamente dependente de financiamento de terceiros, a discussão é tornar quantificáveis fatores como clima, redução de carbono e risco à biodiversidade para viabilizar os negócios, que precisam considerar riscos ambientais e sociais para implementá-los”, afirma. Conalgo diz que o problema das mudanças climáticas mudou o foco da exploração mineral, já que reduzirá a demanda de minerais como carvão e aumentará a de cobre, níquel, cobalto, lítio e provavelmente urânio.
Entre as capitais que mais enfrentam os maiores desafios para a universalização do saneamento básico, Porto Velho (RO) lidera com apenas 4,67% da população atendida com esgotamento sanitário. A DIMINI publicou em 2013 um informe sobre os materiais de construção civil da região. O estudo lista 259 ocorrências minerais, a maioria de caráter inédito, com destaque para as areias e argilas. Em Macapá (AP), 10,98% da população tem esgoto tratado. A região tem áreas de relevante interesse mineral para areias, argilas e rochas para britas. Belém é outro município em situação crítica de saneamento, onde apenas 15,77% dos habitantes são atendidos. Na capital paraense, o SGB-CPRM cadastrou 328 novas ocorrências de recursos minerais utilizados na construção civil em 2011.
No total, o SGB-CPRM publicou 24 relatórios entre 2010 e 2020. Os estudos abrangem capitais como Recife, Natal, Goiânia, Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte, Palmas e outros municípios. Até 2022, estão previstas mais 16 publicações, abrangendo regiões metropolitanas como Pelotas-Rio Grande (RS), João Pessoa (PB), Criciúma-Tubarão (SC) e Maceió (AL). O geólogo Michel Godoy comenta que o Serviço Geológico do Brasil trabalha por demanda governamental de estados e municípios. “Estamos preparados para atender, com novos estudos, regiões que serão contempladas por grandes obras no país”, garante.