Um importante e indispensável jogador no campo do ESG

17/01/2022
Artigo por Maria Albuquerque

Por Maria Albuquerque *

As mudanças climáticas ganham, a cada ano, a atenção de mais setores da economia e, principalmente, da sociedade. 

Digo principalmente porque quando uma pauta dessa envergadura passa a fazer parte das demandas da sociedade civil é porque as empresas já estão no olho do furacão há mais tempo. 

Com a realização da COP-26, em novembro de 2021, e sua grande articulação em termos de divulgação, o tema das mudanças climáticas imbricou-se às decisões que vão afetar muitos negócios, especialmente àqueles em que acordos direcionam para o fim da utilização de derivados de petróleo e, por consequência, do plástico. 

Por mais que, dia após dia, os materiais plásticos se mostrem indispensáveis à sociedade que vivemos, é inegável que sua cadeia produtiva tenha que arcar hoje com décadas de descaso em relação aos impactos ambientais gerados pelo descarte irresponsável. A indústria do plástico recebeu o aviso de cobrança dessa conta há pelo menos uma década. 

Nesses tempos, em que as ações voltadas à promoção da sustentabilidade são valorizadas, a indústria do plástico pode se favorecer de sua vocação natural, já que os conceitos de ESG (Environmental, Social and Governance) estão intrinsecamente ligados à natureza de seu negócio. 

O ESG direciona as práticas de toda a cadeia de produção dessa que é uma das principais indústrias para a economia nacional. Iniciativas de minimização de impactos e de geração de valor socioambiental implantadas por empresas desse segmento visam garantir a sustentabilidade social e ambiental, cujos resultados devem ser mensuráveis e monitoráveis, em contextos abertos à aprendizagem e transparência.  

Essa é a realidade da indústria do plástico que, como agente de impacto climático, sofre imensa pressão para a adoção de tecnologias de reparação ambiental e, por isso, deve estar atenta à necessidade de inovação e de disrupção.  

Mais do que muitas outras indústrias de transformação, a indústria do plástico deve se voltar necessariamente ao tema de geração de resíduos, que gira em torno de seu negócio, destacando-se entre quaisquer outros. Sobre isso, considero de extrema relevância dois pontos de atenção que trarão diferencial competitivo para a indústria do plástico:  a economia circular e a logística reversa. 

A economia circular, que associa o desenvolvimento econômico a um melhor uso de recursos naturais, por meio da menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis, faz com que a indústria do plástico repense sua forma de desenhar, produzir e comercializar produtos para garantir o uso e a recuperação inteligente dos recursos naturais.  

Já a logística reversa, instituída no Brasil em 2010 pelo PNRS (Plano Nacional de Resíduos Sólidos), mas ainda embrionária em sua implementação, depende de altos investimentos, porém não é mais uma questão de necessidade e, sim, de urgência. Só para citar um exemplo, a coleta de embalagens PET ainda é basicamente realizada e paga pelas administrações públicas.  

A iniciativa privada precisa se envolver na logística reversa para que os resíduos plásticos passem de problema a solução. Afinal, um resíduo plástico que volta para a economia na forma de novos produtos torna-se o amálgama de uma verdadeira cadeia de valor. 

Não podemos esquecer que de 6 bilhões de toneladas de plástico produzidas em todo o mundo, nem 10% foi reciclado. Esse dado nos dá o famoso copo meio cheio ou meio vazio: está meio vazio quando demonstra a falta de preparo da indústria e a falta de conhecimento do consumidor em relação aos conceitos da logística reversa, reuso e reciclagem. E está meio cheio quando olhamos para as inovações tecnológicas que surgem em todos os cantos do planeta para solucionar esse problema.  

A indústria do plástico não pode ter sua imagem colada à da vilã, tampouco da salvadora da economia. Ela pode e deve ser uma jogadora de valor estratégico, capaz de jogar em muitas posições e fazer a diferença no uso de recursos como água e energia, na descarbonização em seus processos de produção e transporte, sem esquecer, claro, de manter atenção especial em sua cadeia de suprimentos, educando fornecedores para a temática ESG, engajando seus públicos de interesse em questões de direitos humanos, de diversidade e equidade de gênero, entre tantas outras urgências que a sociedade atual demanda. 


Maria Albuquerque é CEO da Synergia Socioambiental