A evolução do mercado de saneamento no Brasil é notória quando se analisa o setor pelos grandes leilões que estão sendo feitos de companhias estaduais de água e esgoto. A depender do Governo Federal, a questão ideológica do saneamento não existe mais. Está muito claro que há necessidade de investimentos e a possibilidade das companhias privadas e públicas de saneamento (estaduais e municipais) coexistirem. Mas ainda há muito a avançar para cumprir as metas de universalização do marco regulatório até 2033, especialmente no aspecto do esgotamento sanitário. Esse é o principal gargalo a ser vencido.
A boa notícia é que o saneamento está decolando no país – “ainda como um albatroz, meio desajeitado, mas com grande chance de chegar a uma boa altitude”. É o que avalia Fernando de Barros Pereira, CEO da General Water, empresa que nos próximos dois anos espera atender de cinco a oito concessões na área, em municípios de até 100 mil habitantes. Para tanto, a GW já conta com boa estrutura acionária e sólida posição financeira, além de capacidade técnica – “o rating de 10 mil a 100 mil habitantes é muito próximo do que já trabalhamos no mercado privado. Vamos buscar essas oportunidades, mas crescendo sem risco”, sinaliza o Executivo.
A General Water, que começou atendendo o mercado corporativo de grandes consumidores de água, como indústrias, escritórios, shopping centers, universidades e aeroportos, sempre entendeu esse nicho como “concessão particular”, onde a estrutura financeira e de investimentos se mostra parecida com a concessão pública. Ao chegar no site do cliente, todos os investimentos são realizados pela GW, inclusive a escavação de poços e o tratamento da água, além do tratamento de efluentes, visando a utilização dessa água para reuso, na maioria dos casos. A remuneração é baseada no m³ de água ou esgoto tratado e os contratos são de longo prazo, geralmente 10 anos e na maior parte das vezes renováveis. Nada muito diferente do que acontece com os contratos firmados pelas concessões privadas de saneamento.
Assim foi a atuação da companhia de 2001 a 2009, “período de aplicação de muito capital intensivo e aporte recebido dos novos sócios da empresa”. De lá para cá, a GW manteve um crescimento interessante de dois dígitos por ano – “10,12, 15, 20%, dependendo das condições de mercado”, é o que conta Pereira.
A entrada efetiva na área de saneamento ocorreu em 2009, quando a companhia ganhou uma concorrência para um contrato de concessão parcial de água em Porto Feliz (SP), na verdade uma SPE, onde a GW responde por 40% da água tratada do município – ou 115 mil m³/mês, proveniente de poços profundos do Aquífero Tubarão (de até 600m de profundidade). De acordo com Pereira, o contrato, que tem a validade de 20 anos, vem se mostrando bem-sucedido.
O fato é que, logo após a entrada na cidade de Porto Feliz, a GW chegou a prospectar a entrada em novos municípios, muito em função do marco regulatório do setor e da nova lei das concessões. Mas ainda assim o cenário do segmento de saneamento era muito árido e a GW vivia naquele momento um ótimo grau de maturação do negócio de reuso do tratamento de efluentes nos clientes atendidos.
Visando expandir sua atuação, a GW começou a busca por um novo sócio, que além de capital trouxesse sinergia e valor para o negócio e, no final de 2016, início de 2017, foi efetivada a entrada de um fundo de investimentos global, com sede na Europa, chamado LGT. Com isso, as tecnologias de tratamento usadas pela GW se tornaram mais avançadas, com muito emprego de membranas de ultrafiltração, por exemplo.
Esse fôlego permitiu à companhia traçar um novo plano de expansão, amparado em três pilares: a expansão geográfica para além do estado de São Paulo – “nos próximos meses devemos ter uma operação na região Sul”, adianta Pereira; projetos complexos, a exemplo do assinado com o aeroporto de Guarulhos, que tem vazão de água similar ao município de Porto Feliz e inclui tratamento de esgoto e o gerenciamento de todas as redes; e expansão nas concessões públicas de saneamento. Este é o que a GW vem buscando concretizar atualmente, muito em função do novo marco do saneamento, que trouxe maior segurança jurídica ao ambiente de negócios.
Sendo assim, em 2017 / 2018 a General Water retomou os trabalhos focados para a área de saneamento, sempre com muita parcimônia – “ganhamos algumas PMIs, mesmo sabendo que em muitos casos um edital não vira uma concessão e começamos a participar de concorrências em municípios de 10 mil a 100 mil habitantes. E é isso que buscamos hoje”, diz Pereira, com a certeza de que muitos municípios já procuram uma solução junto às pequenas e médias companhias privadas de saneamento – “e nós somos uma delas”.
Se o projeto tiver sinergia operacional e viabilidade financeira, a GW coloca sua proposta – “o mercado de saneamento no Brasil é muito grande e entendemos ser possível crescer nessa área”, avalia Pereira. Hoje, 96% da receita da companhia vem do mercado privado e 4% do mercado público (especificamente a concessão parcial de Porto Feliz). A intenção da companhia é crescer esse patamar da participação pública para 30% nos próximos dois anos, com crescimento gradual, o que significaria a entrada de 5 a 8 concessões – plenas ou parciais – nesse horizonte. (Mara Fornari)