Impacto da estrutura de Porto Alegre na qualidade do ar
A pesquisadora Marluse Guedes Bortoluzzi, aluna do Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Atitus, com orientação do professor Alcindo Neckel, desenvolveu um estudo que mostra como a estrutura de uma cidade impacta na qualidade do ar, por meio da disposição e layout dos edifícios, a presença de vegetação e o transporte público como alguns dos aspectos que influenciam diretamente nas condições do ar e na ventilação urbana. Através de quantitativos de aerossóis presentes na atmosfera e simulações computacionais, Marluse analisou a qualidade do ar do Centro Histórico de Porto Alegre. “A pesquisa é inédita na área de ventilação natural, utilizando um modelo 3D em tamanho real representando um bairro inteiro de uma metrópole”, ressalta a pesquisadora.
O estudo de aerossóis foi realizado através do uso de imagens de satélites da cidade de Porto Alegre disponibilizadas pela Agência Espacial Europeia (ESA), referente aos anos de 2019, 2020 e 2021. Para o tratamento das imagens obtidas e a coleta de informações a respeito dos aerossóis atmosféricos foi utilizado um software de Sistema de Informações Geográficas. Já para a análise da ventilação urbana da área, o estudo utilizou uma simulação computacional de fluidodinâmica no software VENTO AEC, resultando em um modelo com aproximadamente 2.993 edificações e uma área total de 22,46 km², toda área do Centro Histórico. Através de simulações de fluxo de vento, foi possível observar a formação das áreas em que ocorre a estagnação e recirculação de ar, causando um agravamento na concentração de poluentes dispersos na atmosfera”, compartilha Marluse.
A pesquisa identificou que a área com maior concentração de contaminantes está localizada a Noroeste do Centro Histórico, abrangendo uma área de uso misto entre a Praça da Alfândega e a Praça Brigadeiro Sampaio, onde estão localizados órgãos governamentais, instituições bancárias, órgãos administrativos do município e locais destinados à cultura, lazer e turismo. As amostras examinadas apresentaram elementos tóxicos em NPs e partículas ultrafinas, entre eles os mais tóxicos: Arsênio (As), Cádmio (Cd), Chumbo (Pb), Cromo (Cr), Mercúrio (Hg) e Níquel (Ni) - poluentes oriundos do tráfego de veículos, bem como da proximidade de ferrovias e indústrias.
Marluse destaca ainda que o estudo mostrou que o impacto da morfologia urbana no comportamento da ventilação é de grande importância para o conforto e, principalmente, para a saúde dos pedestres, podendo acarretar prejuízos a longo prazo. “Isso mostra a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa para identificar as fontes de poluição, além de subsidiar novas obras públicas”, enfatiza. Outra conclusão importante do estudo foi a redução da concentração de poluição atmosférica na área durante a pandemia de COVID-19, em razão da diminuição das atividades industriais no período e, consequentemente, reduções drásticas na libertação de aerossóis para a atmosfera. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Brasil, os efeitos da pandemia levaram à dissolução definitiva de 70.842 empresas no Rio Grande do Sul até 2021, algumas das quais com características poluidoras (SDE 2023).