Mancha de poluição atinge 160 km e água não é ótima desde 2010
A Fundação SOS Mata Atlântica realizou análise sobre a mancha de poluição no rio Tietê e constatou que ela está imprópria para usos múltiplos e atingiu a marca de 160 km, um aumento de 31% em relação a 2022, quando a mancha atingiu 122 km, chegando perto de dobrar na comparação com 2021 (85 km). Por outro lado, a proporção de água de boa qualidade voltou a subir, de 60 km no ano passado, alcançando 119 km na atual medição, quase se igualando ao mensurado em 2021 (124 km). A maior parte do trecho monitorado se mantém em condição regular (293 km), sinalizando uma situação geral estável. Os dados são do relatório Observando o Tietê 2023, divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica, com patrocínio da Ypê. O rio Tietê tem mais de 1.100 km da nascente à foz, e corta o estado de leste a oeste, atravessando outras áreas urbanas e municípios de importante produção agropecuária. É dividido em seis unidades de gerenciamento de recursos hídricos (UGRHs), também chamadas de bacias hidrográficas.
O trabalho contou com a participação de 41 grupos de voluntários de 28 municípios, incluindo a capital, e abrangeu 16 indicadores, seguindo o Índice de Qualidade da Água (IQA). O estudo faz parte do projeto Observando os Rios, instrumento de educação ambiental, ciência cidadã, fomento à cidadania e governança em prol de água limpa para todos. “Isso reforça a necessidade de planos integrados para toda a bacia do rio Tietê, considerando os aspectos climáticos, do saneamento ambiental nas cidades e do uso da terra nas áreas rurais, visando à conservação da quantidade e da qualidade da água e seus múltiplos usos ao longo de toda a sua extensão. É preciso mais empenho e investimentos para que, de fato, a universalização do tratamento de esgoto seja atingida em 2033, como prevê a lei, ou em 2029, como se comprometeu o atual governo do estado de São Paulo”, disse Gustavo Veronesi, coordenador do Observando os Rios.
Houve pequenas melhorias desde 2016 nas águas do rio Tietê, mas o aumento da mancha de poluição é um sinal de alerta. Além disso, a variação da qualidade da água no percurso do Tietê indica que, mesmo com a realização de diversos projetos estruturais de saneamento, a água ainda é afetada por condições locais, como esgoto, gestão de reservatórios ou atividades agropecuárias.
O monitoramento foi realizado ao longo de 576 km, em 59 pontos de coleta distribuídos por 34 rios das bacias hidrográficas do Alto Tietê (AT), Sorocaba/Médio Tietê (SMT) e Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que abrangem 102 municípios das regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Sorocaba. Isso representa 50% da bacia de drenagem do rio Tietê. No trecho, a água é de boa qualidade em 61 km, da nascente até Mogi das Cruzes, e em outros 58 km perto do reservatório de Barra Bonita. Os 293 km de água regular estão divididos em quatro trechos nas bacias do Alto e Médio Tietê, enquanto os 160 km com água imprópria devido à poluição (127 km com qualidade ruim e 33 km, péssima) vão da nascente até Barra Bonita, na hidrovia Tietê-Paraná. Não foi observada água de qualidade ótima, algo que se repete desde 2010. “Despoluir rios precisa ser uma prioridade dos atuais e futuros governantes por meio de políticas públicas que perpassem administrações. Assim como bebemos água todos os dias, é necessário buscarmos diariamente a despoluição e recuperação dos rios”, completa Veronesi. O relatório completo do Observando o Tietê 2023 pode ser acessado no site da Fundação SOS Mata Atlântica.