Inaugurado primeiro secador solar de lodo do Brasil

10/12/2021
A tecnologia foi desenvolvida pela empresa alemã Huber do Brasil, reduz drasticamente o volume de sólidos dispostos em aterros.

A GS Inima Samar e a Prefeitura Municipal de Araçatuba (SP) inauguraram, dia 10 de dezembro, na ETE Baguaçu, o primeiro secador de lodo do Brasil movido a energia solar. A tecnologia, inédita no país, foi desenvolvida pela empresa alemã Huber do Brasil e, além de reduzir drasticamente o volume de sólidos dispostos em aterros, vem de encontro às metas de sustentabilidade e eficiência operacional da companhia e aos preceitos da economia circular.

O CEO do Grupo GS Inima do Brasil e presidente da Samar, Paulo Roberto de Oliveira, conta que a tecnologia começou a ser implantada em 2019 e que, em 2020, com as restrições impostas pela Covid-19, foi preciso iniciar a montagem remota dos equipamentos, até chegar de fato à inauguração do inédito sistema de secagem solar de lodos. “Quando o Grupo GS Inima assumiu a Samar, o primeiro compromisso foi garantir a qualidade dos serviços prestados e cumprir com todas as metas contratuais estabelecidas dentro do contrato de concessão”, prosseguiu o executivo, ressaltando as conquistas que virão com a nova tecnologia – o secador recebe atualmente, na entrada, 450 toneladas de lodo para secagem por mês e entrega, na saída, 90 toneladas de lodo seco por mês. Também está sendo realizado um estudo para registro, junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária, para uso do lodo como insumo agrícola, “segunda fase do projeto que já está em andamento”. 

Eduardo Caldeira, diretor Técnico da Samar, reforçou a sustentabilidade do projeto, “que reflete a inovação e o pioneirismo da GS Inima Brasil”. O comissário-geral da Agência Reguladora Daea, Márcio Saito, relatou a evolução da obra e lembrou que algumas dificuldades enfrentadas pela engenharia civil e eletromecânica, assim como a pandemia, acabaram atrasando o cronograma da obra. Saito também informou que o lodo recebe uma desidratação prévia de 20% antes de entrar no novo sistema de secagem e que, quando a tecnologia foi adquirida, a expectativa inicial era de 80% de secagem, mas já atinge 95% de redução do volume de lodo “e sem patógenos, organismos que podem causar doenças”.

O secador solar, projeto pioneiro na América Latina, é totalmente automatizado e autônomo, composto por três revolvedores que trabalham 24 horas por dia, misturando o lodo e fazendo a remoção do material já seco – ciclo que leva de 10 a 15 dias para se completar. “Antes, todo esse volume era enviado para aterros sanitários, com 80% de água e apenas 20% de sólidos tratados”, conforme volta a enfatizar Saito. A construção da estrutura foi iniciada em 2019 e, em 2020, a montagem dos três revolvedores e demais equipamentos aconteceu com orientações à distância e uso de óculos de realidade virtual por causa das restrições impostas pela pandemia. O investimento totalizou R$ 15 milhões.

Eduardo Berretini, diretor de Operações da GS Inima Brasil, lembra o início da busca por tecnologias que pudessem reduzir o volume de lodo que estava sendo disposto em aterro e, após uma visita técnica, a escolha foi pela tecnologia da Huber do Brasil, que para atender à demanda da ETE Baguaçu precisou ser “tropicalizada”. Considerando a área de insolação, o desenho do projeto foi modificado de acordo com a topografia local: o lodo sai da centrífuga pelo sistema de bombeamento e dá entrada no secador. Na estrutura, as três linhas de revolvedores vão remexendo o sólido que chega no final do processo com 95% de sólidos. Nesse ponto, o próprio equipamento leva o material seco a um sistema de tremonha para ser recolhido por caminhões, sem nenhum contato manual, com os devidos controles de temperatura e umidade, para melhor eficiência do tratamento de secagem. A próxima etapa, volta a frisar Berretini, é promover a economia circular, com o emprego desse material na agricultura, por exemplo.

Até lá, o diretor de Operações salienta que, com a adoção da nova tecnologia, o impacto de disposição do lodo seco nos aterros é muito baixo – “sem umidade, esse material não lixivia e não aumenta o chorume, além de ser praticamente inerte. O sistema está muito bem dimensionado para as próximas etapas. Seu consumo de energia é muito baixo e a redução do volume sólido na ordem de cinco a seis vezes também diminui o tráfego de caminhões, reduz o consumo de combustíveis e gera menos CO2 na atmosfera. Aspectos que já fazem parte da política de sustentabilidade do Grupo GS Inima”.

São 7.000 m2 de área construída, um enorme galpão todo em vidros encaixados, com 140 metros de comprimento por 40 metros de largura. As três linhas de revolvedores trabalham de forma independente, com controle de temperatura e umidade, até o descarte final do material seco.

ETE Baguaçu

A Estação de Tratamento de Esgoto – ETE Baguaçu trata diariamente 43 mil m³ (ou 43 milhões de litros/dia), o que corresponde hoje a 100% de tratamento de todo esgoto gerado e coletado no município com cerca de 200 mil habitantes. Aliás, como bem pontuou o prefeito de Araçatuba, Dilador Borges Damasceno, durante a cerimônia de inauguração do novo secador, o índice de coleta de esgotos é de 99%, mais precisamente. Esses números levaram Araçatuba a ser destacada pelo Ranking da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), em 2020, pelo terceiro ano consecutivo, entre as 40 cidades do Brasil com os melhores índices de saneamento básico.

Construída pela iniciativa privada em 2000, na primeira concessão pública realizada pelo município na área de saneamento básico, a estação passou a ser administrada pela GS Inima Samar no ano de 2015.

Uma nova ETA em 2022

Com contrato na modalidade plena, a companhia também é responsável pelo serviço de abastecimento de água no município, que já se encontra universalizado. Atualmente, Araçatuba conta com três estações de tratamento de água – duas delas tratam a água captada no rio Baguaçu (que abastece 50% da população da cidade) e a captação da terceira é feita no rio Tietê, através de uma adutora com 15 km de extensão. Para completar o abastecimento de água para a população, a concessionária conta ainda com mais dois poços.

No momento, encontra-se em construção a ETA IV, que uma vez pronta passará a concentrar o tratamento realizado pelas ETAs I e II. A nova estrutura deverá ser entregue à população ainda no primeiro semestre de 2022, como forma de garantir a perenidade do serviço.