Os ‘lixões’ persistem, mas aterros sanitários evoluem
A gestão dos resíduos sólidos nas cidades brasileiras segue evoluindo. Devagar, é bem verdade, mas a melhora está comprovada nos números divulgados no Suplemento de Saneamento, parte integrante da Pesquisa de Informações Básicas Municipais - Munic 2023, publlicada no mês de novembro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O registro nos colocou à frente em relação ao levantamento anterior, realizado em 2017, mas em um lugar ainda distante das metas previstas pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS - 2010).
Segundo o Munic-2023, até o ano passado, menos de um terço das cidades do país (28,6%) afirmou fazer a gestão do lixo em aterros sanitários e pouco mais da metade (55,9%) conta com um plano municipal de saneamento finalizado. O alerta ficou para os 31,9% dos municípios que ainda possuem “lixões a céu aberto” e os 18,7 % que utilizam os chamados aterros controlados, alternativa intermediária, mas sem impermeabilização do solo nem sistemas de tratamento para chorume e gases. O Brasil não deveria mais ter lixões desde o dia 2 de agosto de 2024, de acordo com as premissas do PNRS.
A terceira onda no tratamento de resíduos - Enquanto prefeituras lutam para superar barreiras importantes como escassez de recursos e pouca expertise técnica, de outro lado, os avanços das tecnologias voltadas à gestão ambiental do lixo já oferecem melhorias significativas e mais eficiência. A timeline do tratamento de lixo no Brasil pode ser dividida em três grandes fases. A primeira incluiu a coleta e gestão básica dos resíduos sólidos. Um segundo passo – ainda vigente – veio com a implementação de sistemas de drenagem de chorume e manejo de águas pluviais. Agora, a “terceira onda” de padronizações alcançou um novo aspecto, considerado fundamental por especialistas e citado nas legislações: o controle de odores e maus cheiros. Esse novo momento reconhece que, além dos impactos visíveis (resíduos sólidos ou água contaminada), os impactos invisíveis dos odores nocivos e desagradáveis têm grande influência sobre o meio-ambiente urbano e o bem-estar das comunidades, com alto potencial para causar desconforto físico, afetar a qualidade de vida, gerar desequilíbrio na natureza e até conflitos sociais.
O controle de odores em aterros sanitários requer uma combinação de tecnologias e boas práticas operacionais. A busca constante por inovação e investimentos em pesquisa resultou no desenvolvimento de soluções sustentáveis, aplicadas através de nebulização de agentes neutralizadores naturais, coberturas biodegradáveis e biofiltração, com capacidade de mitigar efetivamente o problema. Além de melhorar as condições nos aterros, essas mesmas soluções também vêm sendo utilizadas em Estações de Tratamento de Efluentes (ETE), especialmente em tanques e lagoas aeróbicas e anaeróbicas, fortalecendo o manejo sustentável de chorume e águas pluviais.
Ficaram no passado as opções paliativas que apenas “mascaravam” o cheiro ruim. Hoje, conseguimos neutralizar biologicamente os gases odoríferos e as suas consequências, de forma atóxica e sustentável, transformando as moléculas dos gases em água e um sal biodegradável. Parece mágica, mas é tecnologia e inovação.
Cabe parabenizar o IBGE pelo levantamento Munic-2023, rica fonte de informações para o setor ambiental. Na Dux Grupo notamos, ainda, que esta edição da pesquisa trouxe uma nova pergunta justamente em relação ao “uso de soluções baseadas na natureza”, quais sejam: abordagens para resolver desafios sociais, econômicos e ambientais usando processos e elementos naturais de forma sustentável. A questão nos saltou aos olhos, afinal é isso o que fazemos. (Por Marcelo Spaziani, CEO da Dux Grupo)