Pesquisa da UFSCar mostra importância das cloud florests

05/10/2024
A Serra da Mantiqueira é outro exemplo de cadeia de montanhas, que abrange os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e também proporciona condições para a formação dessas florestas úmidas e ricas em biodiversidade.

A professora Kelly Tonello, do Departamento de Ciências Ambientais (DCA-So) do Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), realiza pesquisa sobre as chamadas cloud forests – também conhecidas como florestas nebulares ou florestas de neblina – que são ecossistemas raros e que representam cerca de 1% das florestas globais, situados principalmente em regiões montanhosas onde as condições permitem a formação de neblina. O trabalho conta com a participação dos professores Sergio Dias Campos e Aparecido Junior de Menezes, do Departamento de Física, Química e Matemática (DFQM-So), e Albano Magrin, do Departamento de Biologia (DBio-So).

No Brasil, as cloud forests são encontradas, por exemplo, na Serra do Mar, uma cadeia de montanhas que se estende por 1.500 km no sudeste do País, paralelamente ao Oceano Atlântico. A proximidade dessas florestas com o oceano contribui para que o ar úmido evapore, suba com as correntes de vento e, ao atingir as encostas das montanhas, se condense e forme nuvens, criando um ambiente perpetuamente úmido. A Serra da Mantiqueira é outro exemplo de cadeia de montanhas, que abrange os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e também proporciona condições para a formação dessas florestas úmidas e ricas em biodiversidade.

De acordo com a professora e pesquisadora Kelly Tonello, as florestas de neblina têm um papel vital na regulação do ciclo hidrológico regional, pois recebem água não apenas da chuva, mas também da captação de umidade da neblina, um processo conhecido como precipitação horizontal. "Essa entrada de água via neblina é crucial para a manutenção das características únicas desses ecossistemas. O nível elevado de umidade favorece uma biodiversidade rica, especialmente de epífitas, como briófitas e líquens, que absorvem umidade e nutrientes diretamente do ar. Muitos organismos presentes são endêmicos, ou seja, só existem ali, o que faz dessas florestas locais importantes para a biodiversidade e para a estabilidade ecológica", descreve a professora da UFSCar.

Os estudos têm como objetivo entender os serviços eco-hidrológicos dessas florestas, com foco na repartição de chuva, capacidade de retenção de água pelas briófitas (pequenas plantas como musgos, hepáticas e antóceros abundantes nos troncos das árvores, folhas, solo e rochas) e na fixação de nitrogênio, além de investigar os impactos das mudanças climáticas nesses ecossistemas. "Esses processos são críticos para a sustentabilidade e resiliência ecológica das florestas nubladas, contribuindo para a manutenção da hidrologia regional e a fertilidade do solo", destaca Kelly. Até o momento, a pesquisa identificou que as briófitas desempenham um papel fundamental na retenção de água, ajudando a manter o ambiente úmido durante todo o ano, mesmo em períodos de menor precipitação. "Além disso, foi constatado que as florestas nebulares são altamente vulneráveis às mudanças climáticas, que podem reduzir a imersão de umidade e aumentar as temperaturas. Isso poderia afetar negativamente a biodiversidade, especialmente as epífitas que dependem de altos níveis de umidade, levando à perda de espécies e à reorganização de comunidades ecológicas", aponta a pesquisadora.

O projeto tem parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), Universidade de Hamburg, Cleveland State University, Adam Mickiewicz University e Universidade de Copenhagen, onde Kelly Tonello esteve recentemente para trocas de conhecimentos e experiências. A colaboração inclui ações como trabalho de campo conjunto, intercâmbios acadêmicos e desenvolvimento de novas metodologias. A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).