A Tecnologia a serviço da universalização do saneamento no Brasil
A água é um recurso vital para a vida e seu manejo eficiente é fundamental para garantir que todos tenham acesso a esse bem essencial. Para que o Brasil alcance a universalização dos serviços de água e esgotamento sanitário até 2033, exigida pelo Novo Marco Legal do Saneamento, é necessário mais do que apenas recursos financeiros e vontade política: um terceiro elemento, igualmente fundamental, é a tecnologia.
A fim garantir o acesso a serviços de saneamento básico para toda a população, sem discriminação, independentemente da localização ou da situação socioeconômica das pessoas, a adoção de inovações tecnológicas pode não apenas melhorar a eficiência operacional dos sistemas, mas também torná-los mais sustentáveis, atendendo às necessidades das futuras gerações. Um exemplo promissor de inovação é o conceito de gêmeos digitais. Essa tecnologia permite criar réplicas virtuais de infraestruturas, como elevatórias de esgoto, antes mesmo de sua construção física. Modelando uma elevatória em um ambiente virtual, é possível otimizar seu design e operação, avaliando como diferentes condições afetam o desempenho do sistema. Ao ajustar o projeto no ambiente virtual, a construção pode ser realizada com confiança, minimizando erros e acelerando o tempo de entrega. Um projeto de elevatória, desenvolvido pela Siemens em parceria com a Universidade de Berlim, ilustra como essa abordagem pode transformar a execução de projetos de saneamento. Uma vez em operação, o gêmeo digital continua a monitorar e otimizar o desempenho do sistema, garantindo uma operação eficiente e sustentável.
Além dos gêmeos digitais, a utilização de inteligência artificial (IA) pode ser uma grande aliada para enfrentar as complexidades dos sistemas de saneamento, como a identificação de perdas na redistribuição de água. Soluções baseadas em IA permitem monitorar e otimizar redes de esgoto, reduzindo bloqueios e melhorando a eficiência geral do sistema. Com plataformas abertas, conseguimos integrar diversas fontes de dados, tornando a gestão da água mais inteligente e responsiva. Embora muitas dessas inovações já estejam em uso em diversas partes do mundo, é fundamental que o Brasil também se beneficie delas. A tecnologia não é uma realidade distante; ela está acessível e pronta para ser implementada.
Segundo o estudo “Avanços do Novo Marco Legal do Saneamento Básico no Brasil de 2024”, publicado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a GO Associados, cerca de 32 milhões de brasileiros vivem sem acesso à água potável e mais de 90 milhões não têm coleta de esgoto. O Novo Marco Legal do Saneamento estabelece que todas as localidades devem atender a 99% da população com abastecimento de água e 90% com esgotamento sanitário até 2033. Para isso, são necessárias mudanças que estimulem investimentos no setor, como a definição de metas para a universalização e a maior segurança jurídica para processos de desestatização.
A tecnologia desempenha um papel fundamental na promoção da sustentabilidade nas operações de saneamento. Por meio de inovações como gêmeos digitais e inteligência artificial, estamos contribuindo para um futuro onde a universalização do acesso à água e esgoto seja uma realidade. À medida que essas tecnologias se tornam mais acessíveis, o setor de saneamento pode dar passos significativos em direção a uma operação mais eficiente e sustentável, beneficiando toda a sociedade. (Por Pablo Fernandez, Head da Vertical de Saneamento da Siemens)