Trump anuncia saídas da OMS e do Acordo de Paris
Em seu primeiro dia do novo mandato como presidente dos Estados Unidos, Donals Trump anunciou a saída do país da Organização Mundial da Saúde (OMS), agência especializada em saúde fundada em 1948 e subordinada à Organização das nações Unidas (ONU). Para Trump, a OMS continua a exigir pagamentos injustamente onerosos aos Estados Unidos. Esta é a segunda vez que o presidente dota essa medisa. A primeira aconteceu em 2020 durante a pandemia de COVID-19, quando congelou repasses à OMS.
Atualmente, a OMS conta com mais de 190 países-membros, em seis regiões e com mais de 150 escritórios. A OMS ajuda a combater doenças transmissíveis, como gripe e HIV, e outras, como câncer e problemas cardíacos. Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Vitelio Brustolin, o maior impacto da saída americana da OMS será o financeira, uma vez que os Estados Unidos colaboraram com cerca de US$ 550 milhões. “O corte de recursos vai ser intenso, porque os Estados Unidos são o maior doador individual da agência de saúde. Isso vai impactar em ações da OMS em países emergentes. Se você corta a ligação do país com a OMS, você corta o contato dos centros de controle e prevenção de doenças espalhados pelos EUA com a OMS, o que prejudica o desenvolvimento de pesquisas científicas”, avalia Brustolin.
Para Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM, o gesto de Trump atende interesses de grupos apoiadores durante a corrida presidencial. “A saída da OMS responde à pressão de grupos internos americanos, com relação à pandemia, que sente que as ações da OMS foram negativas. Ele atende a um grupo antivacina. A saída tem um impacto importantíssimo para a própria organização. Os Estados Unidos são o principal doador. A saída vai gerar a descontinuidade de vários programas da OMS”, diz a professora.
O responsável pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) será Robert F. Kennedy Jr que diz haver correlação entre vacinas infantis e autismo e que a gripe espanhola e o HIV tem origem na pesquisa de vacinas, mesmo sem comprovar veracidade sobre as suspeitas. O porta-voz da OMS, Tarik Jašarević, lamenta decisão tomada por Trump e espera uma mudança de posicionamento do líder americano. “Esperamos que os Estados Unidos reconsiderem, e realmente esperamos que haja um diálogo construtivo para o benefício de todos, para os americanos, mas também para as pessoas ao redor do mundo”.
Outra decisão polêmica de Donald Trump em seu primeiro dia de mandato foi a retirada – pela segunda vez, dos Estados Unidos do Acordo de Paris, documento assinado em 2015 que visa reduzir as emissões de gases do efeito estufa. A decisão é vista como um golpe nos esforços globais contra o aquecimento global, à medida que eventos climáticos catastróficos se intensificam em todo o mundo. Mesmo antes de sua saída formal, que levará um ano, a medida é um golpe para a cooperação internacional que visa reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Os críticos alertam que a decisão de Trump poderia incentivar outros grandes poluidores, como a China e a Índia, a reduzir seus próprios compromissos.
O tratado, assinado por 196 países em 2015, tem como objetivo a redução das emissões de gases que causam o efeito estufa para evitar o aumento da temperatura global acima dos 1,5ºC. A medida vem acompanhada da emergência no setor energético decretada por Trump e revogação de medidas ambientais de Joe Biden que restringiam a exploração de petróleo em áreas costeiras dos Estados Unidos. O novo presidente pretende explorar essas reservas e estimular um aumento na produção de petróleo e extração mineral, em uma política de "perfurar, baby, perfurar". Essas práticas podem ter consequências ambientais para o planeta, porque os EUA são um dos países que mais emite gases do efeito estufa.