Uso de reciclados com aditivos pode gerar economia de até 15%
Segundo a doutora em Química e cofundadora da IQX, Silmara Neves, a substituição da resina virgem por reciclada pode reduzir entre 20% e 60% os custos com matéria-prima, dependendo do tipo de polímero e da qualidade do reciclado. Em larga escala, isso representa uma economia de até 15% no custo total de produção. Além disso, a resina reciclada tende a ter menor volatilidade de preço, já que não depende diretamente das oscilações do mercado do petróleo — um fator crítico para o planejamento financeiro da indústria. “Reciclar é uma questão ambiental, mas também de estratégia econômica”, afirma Silmara. “Ao adotar resinas recicladas, a indústria reduz gastos, garante acesso a mercados mais exigentes e ainda se alinha a metas globais de descarbonização”. Ela explica que, em determinadas formulações, ao substituir 30% de resina virgem por reciclada com o uso de aditivos compatibilizantes, é possível economizar, por tonelada produzida, cerca de 2.600 kWh de energia, 17.250 litros de água, reduzir a emissão de aproximadamente 700 kg de CO₂ e, em média, R$ 570 em custos diretos.
Os compostos químicos, conhecidos como aditivos compatibilizantes, possibilitam a mistura de diferentes tipos de plásticos, como os presentes em embalagens multicamadas — frequentemente usadas para alimentos — ou mesmo plásticos contaminados com outros materiais. O uso de tais aditivos melhora a estabilidade e resistência do reciclado, conferindo maior valor técnico e comercial. Com isto, a resina reciclada pode ser utilizada em maior escala e com desempenho mais próximo ao da resina virgem. Esse é um avanço importante para a economia circular do plástico, que visa à manutenção do material em uso por mais tempo, reduzindo desperdícios, emissões e a extração de recursos naturais.
Além de reduzir custos e emissões, a reciclagem tem potencial para movimentar a economia e gerar milhares de empregos. Estudo recente da Fundação Dom Cabral em parceria com o Instituto Atmos mostra que cada aumento de 1% na taxa de reciclagem pode gerar mais de nove mil empregos. Se o índice subisse 10%, o Brasil poderia criar 93 mil novos postos e evitar perdas anuais de R$ 14 bilhões com o descarte de materiais que poderiam ser reutilizados. No cenário mais otimista do estudo, o avanço da reciclagem até 2040 poderia gerar mais de 200 mil empregos diretos. “Embalagens flexíveis — como sacolas plásticas e filmes utilizados para envolver produtos, também chamadas de embalagens secundárias — são excelentes candidatos. Nesses casos, o uso de reciclado de alta performance com aditivos gera peças com boa resistência mecânica, menor custo e mais estabilidade no processo industrial”, destaca Silmara. Para a pesquisadora, o futuro da indústria passa por entender que a reciclagem precisa gerar lucro. “Se não for lucrativa, a reciclagem não se sustenta nem se expande. O reciclado só será amplamente adotado se for competitivo com a matéria-prima virgem. E isso depende de tecnologia, estabilidade de fornecimento e incentivo à inovação. Empresas que fizerem esse movimento agora vão liderar o mercado amanhã”, conclui.