Drones ajudam a monitorar sinais de terremotos em oceanos

04/06/2025
12 eventos sísmicos foram registrados por meio dos microfones submersos (hidrofones) embarcados nos drones.

Um estudo publicado em 30 de maio de 2025 na revista científica Scientific Reports, do grupo Nature, mostra que drones oceânicos — originalmente desenvolvidos para monitorar sons marinhos — também são capazes de detectar sinais sísmicos, como os causados por terremotos próximos e distantes. Conduzida a partir da base de dados do Projeto de Monitoramento da Paisagem Sonora Subaquática da Bacia de Santos, no litoral de São Paulo, ao longo de seis anos (2015 a 2021), 12 eventos sísmicos foram registrados por meio dos microfones submersos (hidrofones) embarcados nos drones. A análise aponta que esses eventos apresentavam características típicas de terremotos, como frequências baixas e longas durações.

Os resultados apontam que os drones oceânicos, silenciosos e com mecânica impulsionada por flutuabilidade e perfilamento subaquático autônomo, são uma alternativa promissora para aquisição de dados quase em tempo real. “Essas descobertas demonstram que os planadores oceânicos são eficazes para o monitoramento de terremotos a partir de plataformas oceânicas, oferecendo vantagens significativas para observações sísmicas direcionadas de longo prazo em áreas costeiras e marginais, onde os métodos convencionais frequentemente enfrentam limitações operacionais”, destaca o geofísico Marcelo Belentani de Bianchi, Prof. Dr. do Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) e um dos autores do estudo. O trabalho contribuiu com a evidência de que drones oceânicos, também conhecidos como “veículos autônomos subaquáticos”, funcionam como plataformas móveis e silenciosas, que navegam pelas águas coletando dados ambientais e acústicos. Embora não tenham sido criados com a missão de detectar terremotos, mostraram-se eficazes para isso. “Com esses drones, conseguimos monitorar as áreas costeiras de forma mais contínuo e mais acessível logística e economicamente quando comparado com métodos tradicionais, que exigem navios e sensores instalados no fundo do mar”, explica o geofísico Carlos Chaves, Prof. Dr. do IAG-USP e coautor do estudo. 

Os pesquisadores avaliaram uma plataforma sismológica oceânica de 2015 a 2021 de dados de monitoramento acústico passivo de drones oceânicos na Bacia de Santos, sudeste do Brasil, originalmente não projetada para monitoramento de terremotos. As gravações feitas por drones contratados pela Petrobras operavam na costa sudeste do Brasil. A metodologia envolveu a identificação automática de sons anômalos, seguida de uma análise espectral detalhada. “Eliminando vieses, conseguimos confirmar que os sinais, por exemplo, não vinham de baleias, embarcações ou outras fontes comuns de ruído subaquático, mas sim de sinais sísmicos”, ressalta de Bianchi. De acordo com os autores, a descoberta abre uma nova frente para o monitoramento de terremotos em alto-mar, especialmente em regiões onde é mais caro e difícil instalar equipamentos fixos, incluindo áreas costeiras brasileiras, onde a atividade sísmica é considerada baixa. “Os drones podem ser usados para complementar redes sísmicas existentes e até mesmo atuar em sistemas de alerta para regiões costeiras”, sugere Chaves

A expectativa da equipe é a tecnologia seja ampliada para outras áreas marítimas e que os drones passem a ser equipados com sensores ainda mais sensíveis e voltados à geofísica. O estudo também é um chamado para que o Brasil invista em formas inovadoras de observar o oceano, não apenas por motivos econômicos, mas pela segurança e compreensão dos riscos naturais associados ao território marinho. Os autores do estudo são Marcelo de Bianchi e Carlos Chavesambos do IAG-USP;  Diogo Luiz de Oliveira Coelho, Ítalo Maurício e Sérgio Fontes, do Observatório Nacional e Ricardo Borges, do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES) da Petrobras.