Goiânia utiliza técnica para reter água da chuva como solução
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta Goiânia como a 7ª capital brasileira com maior concentração urbana, das quais 87,4% de suas áreas urbanizadas densas. Junto com este adensamento, surgem diversos desafios ambientais, entre eles a drenagem insuficiente e a falta de permeabilidade do solo - excesso de espaços pavimentados, em outras palavras. A capital goiana registrou, em 2025, 126 pontos de alagamento, número que, de acordo com a Defesa Civil, representou um aumento de 27,7% em relação ao ano anterior.
Uma solução que pode ajudar a diminuir este problema é o uso dos swales, técnica que consiste na escavação de valas que acompanham o desenho topográfico do terreno, promovendo a retenção e infiltração no solo da água da chuva de maneira mais eficiente, reduzindo significativamente impactos de fortes eventos climáticos. “Dependendo da topografia do terreno, as valas podem ser construídas em praças, canteiros centrais de avenidas, às margens de rodovias e até mesmo em espaços pequenos, como nos quintais das casas das pessoas, em condomínios horizontais ou nos loteamentos tradicionais", comenta a arquiteta e urbanista Luci Costa, do Grupo Tropical.
O swales foi desenvolvido pelo australiano Bill Molison, em 1981, e desde então vem sendo utilizado e aperfeiçoado em diversas partes do mundo. Em Terezópolis de Goiás, a poucos quilômetros de Goiânia, a técnica vem sendo adotada, uma vez que o município está totalmente dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do João Leite, onde está a maior reserva hídrica da região metropolitana. A solução foi adotada no projeto do condomínio horizontal Aldeia Santerê Casa e Natureza, empreendimento da Raiz Urbana, empresa do Grupo Tropical, em área equivalente a 110 mil metros. Eles captam toda a água da chuva, que infiltra no solo, evitando assim que escorra para a reserva do João Leite.
Junto aos swales, que estarão na divisa entre os lotes, o projeto inclui também a criação de um pomar com largura de 15 metros, formando verdadeiras “artérias verdes. A ideia é plantar espécies nativas que vão ajudar na conservação e na manutenção da biodiversidade e da fauna nativa do local e, ao mesmo tempo, farão uma divisa natural entre as moradias com frutas para toda a vizinhança. “É possível construir de maneira consciente, mantendo a preservação dos recursos naturais e o conforto e segurança dos moradores”, diz a arquiteta Luci Costa. José Ogata, engenheiro agrônomo especialista em projetos socioambientais e consultor ambiental do Aldeia Santerê, observa que se o pomar tem uma dupla função. Por um lado, proporciona mais verde e reconexão com a natureza para os moradores; por outro, é o lugar ideal para receber o swale, que precisa das plantas ao seu redor para se tornar viável. “As raízes e os microorganismos, que se conectam a elas, criam pequenos túneis que possibilitam a melhor absorção de água e permeabilidade do solo", explica. Os swales também beneficiam o pomar. “A água fica mais tempo armazenada, contribuindo para a saúde das plantas ao redor e para a manutenção de um microclima mais ameno por meio do ciclo hídrico”, complementa o engenheiro agrônomo.