Impacto do rio Amazonas no oceano Atlântico

20/07/2022
O rio despeja cerca de 200 milhões de litros de água doce por segundo no oceano. 

Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Biodiversidade e Processos Microbianos (LBPM) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) percorreu com o veleiro Tara o rio Amazonas para estudar o impacto de suas águas no oceano Atlântico. O rio despeja cerca de 200 milhões de litros de água doce por segundo no oceano. 

O grupo coletou amostras de água na região, em diferentes profundidades. A expedição, que também buscou levantar a quantidade de microplásticos que é transportada para o mar, integra o projeto AtlantECO [https://pt.atlanteco.eu/], parceria entre Europa, Brasil e África do Sul com o objetivo de investigar a diversidade e as funções dos microrganismos no Oceano Atlântico. A bordo do Tara e outras embarcações, são feitas expedições em diversas localidades. Na Amazônia, dentre as pessoas embarcadas no Tara estava Paula Huber, pós-doutoranda na UFSCar, como cientista-chefe do veleiro nas atividades realizadas entre Macapá (AP) e Salvador (BA). Paula integra a equipe do LBPM, coordenado por Hugo Sarmento, docente no Departamento de Hidrobiologia (DHb) da UFSCar, que esteve em outras etapas da missão. "As amostras coletadas nos permitem estudar os microbiomas superficial e profundo nesta região combinando técnicas moleculares e de microscopia de ponta. Além disso, vamos quantificar os plásticos nesta região e os microrganismos associados, que são conhecidos como 'plastisfera'", relata a pesquisadora da UFSCar.

A pesquisadora comenta que as amostras de água foram processadas e armazenadas até o final da expedição, quando foram enviadas para análise em diferentes laboratórios. Na UFSCar, serão feitas análises de sequenciamento genético. "Uma vez que a identificação morfológica de microrganismos é quase sempre impossível, é necessário sequenciar os seus genes para identificá-los e, sobretudo, para identificar as diversas funções ecológicas que eles desempenham, essenciais para o funcionamento desses ecossistemas", explica Sarmento. Todos os resultados e dados gerados pelo AtlantECO serão de acesso público e estarão abertos para utilização de qualquer pessoa em todo o mundo.

Paula Huber diz que os rios de todo o mundo são importantes vias para o plástico chegar ao oceano. Além da sua dimensão e da quantidade de água doce que o Amazonas despeja no mar diariamente, ele percorre 40% da América do Sul e é uma das principais fontes de resíduos plásticos no Oceano. "A maior parte do plástico presente no rio fragmenta-se rapidamente e transforma-se em micro e nanoplásticos enquanto segue em direção ao mar. Esse microplástico é transportado por correntes oceânicas e, parte dele, passa por regiões de alta biodiversidade e pode causar consideráveis impactos, particularmente na vida microbiana marinha", explica a pesquisadora. 

Para Hugo Sarmento, muitos animais confundem os microplásticos  com alimentos e acabam consumindo o material e, muitas das vezes, morrendo, por não conseguir digerir. "Mesmo quem mora no interior deve saber que nosso plástico também chega aos oceanos através dos rios, já na forma de microplástico, causando danos infinitos a esse bioma", reforça.

O oceano recebe toneladas de plástico anualmente, que chegam a formar ilhas com tamanhos maiores que o estado de São Paulo. Desde 2011, um projeto iniciado pela instituição australiana Earth Carers Waste Education visa incentivar as pessoas a reduzir o consumo de plástico e, assim, seus impactos no ambiente. O movimento tem ganhado mais adeptos ao redor do mundo e hoje acontece em diversos países. No Brasil, a campanha "Julho sem Plástico" é realizada por diferentes entidades e grupos com foco na conscientização e estímulo a comportamentos que favoreçam o consumo e o uso cada vez menores do plástico. 

O “Julho sem Plástico” orienta para iniciativas que não usem plástico ou tenham pouca quantidade do material; reutilização das embalagens plásticas; descarte correto do plástico, quando não há opção de reuso; utilização de produtos mais sustentáveis (canudos em inox, sacolas ecológicas, escovas de dente de bambu, dentre outros); e, por fim, incorporação desses hábitos para além do mês de julho. Para os órgãos governamentais, a pressão é de implementar regulamentação para banir os plásticos de uso único (descartáveis).