Plataforma garante transparência e rastreabilidade a povos tradicionais
Administrada pela Imaflora, a rede Origens Brasil® opera em cinco grandes territórios da Amazônia - Xingu, Norte do Pará, Rio Negro, Solimões e Tupi Guaporé - e conecta populações tradicionais, povos indígenas, ribeirinhos, extrativistas, organizações de apoio, associações, cooperativas e médias e grandes empresas. Com isto, a rede Origens Brasil® investiu no desenvolvimento da nova versão de sua plataforma digital para impulsionar a estruturação de relações comerciais transparentes e com rastreabilidade, com o objetivo de proporcionar maior segurança de dados e integração com o trabalho de campo, além de oferecer uma visão mais próxima da realidade das comunidades produtivas e do impacto real dos projetos de bioeconomia. “A plataforma é uma aliada para as organizações e instituições de apoio, pois a partir dela é possível mostrar que a economia da floresta existe e é próspera. Agora que a economia da sociobiodiversidade está ganhando espaço na política, é essencial falar da rastreabilidade dessas cadeias produtivas, como forma de garantir um produto que mantém a floresta em pé e informações para o combate ao desmatamento. Parte dos dados também está disponível para o público e pode se tornar insumos para tomadas de decisão e criação de políticas públicas nos territórios amazônicos”, explica Mariana Finotti, Analista de inteligência de dados da rede Origens Brasil®.
A rede Origens Brasil® atua como um sistema de garantia baseado em quatro pilares - origem e rastreabilidade, governança, promoção do comércio ético, monitoramento de resultados e impacto. No pilar Origem e Rastreabilidade, a rede oferece aos povos da floresta a chance de utilizar a tecnologia digital com a inserção dos dados primários a respeito dos produtos, como valores e volumes de produção e comercialização, bem como sobre os produtores e o território. Tudo é verificado por uma equipe técnica da rede Origens Brasil®. “Oferecemos treinamentos presenciais e on-line, gravados ou ao vivo, para capacitar os envolvidos. Além disso, nossa prioridade foi desenvolver as ferramentas com um visual simplificado, atenção à usabilidade e com compatibilidade com planilhas de Excel para facilitar a inserção de dados”, explica Mariana.
Nessa estruturação das cadeias produtivas, as comunidades contam com as instituições de apoio para fazerem o cadastramento, como, por exemplo, o Pacto das Águas, que ajuda a estruturar a cadeia da borracha, faz a revitalização e ampliação de seringais no território Tupi Guaporé, em Rondônia, e assessora essa produção. “Antes, as organizações trabalhavam de forma mais isolada, sem compartilhamento de informações. Hoje acessamos tudo compilado na plataforma, onde é possível visualizar detalhes e dados de outros atores e territórios, bem como empresas compradoras, volumes comercializados e preços praticados. E para as instituições de apoio é muito positivo usar essas informações como ferramenta de melhoria, aprimoramento e inovação. A rede Origens Brasil® proporciona transparência nos processos de negociação, gerando relações de mais confiança e fortalecimento do coletivo”, analisa Savio Gomes Rego, Vice-Presidente do Pacto das Águas.
As empresas que fazem parte da rede acessam o mesmo sistema onde os dados primários foram inseridos pelos produtores. Para elas, a plataforma exibe análises mais completas, com um dashboard que permite que elas tenham mais previsibilidade e façam uma melhor gestão de suas compras. “Dessa forma, os dados de comercialização - quais os produtos vendidos, de quem e para quem, por qual valor e em que data - ficam registrados na plataforma de forma segura e transparente. Esse movimento garante mais segurança para as marcas compradoras”, reforça Mariana. Já os consumidores com acesso à tecnologia podem consultar dados sobre os povos produtores a partir do QR Code com numeração exclusiva, ou diretamente no site origensbrasil.org.br. Dessa maneira, é possível informar as pessoas sobre o território e as histórias por trás de cada produto, bem como dar visibilidade aos serviços socioambientais dos povos tradicionais, selando o compromisso com a transparência de ponta a ponta.
No pilar Monitoramento de Resultados e Impactos, a rede traz 15 indicadores desenvolvidos pelo grupo NSC (Natureza Sociedade e Conservação) em parceria com outros atores, inclusive da própria rede. Por meio de um aplicativo, também desenvolvido internamente, são realizadas entrevistas em campo que englobam questões sociais, como a situação das mulheres e jovens, e a conservação dos recursos naturais. “A construção científica da metodologia dos indicadores de impacto foi iniciada em 2014 com a participação ativa de membros da rede e especialistas na temática. A coleta de dados começou em 2017 e atualmente reconhecemos que temos um sistema inovador e participativo, capaz de traduzir o impacto da rede Origens Brasil, bem como identificar as melhorias necessárias para cada território”, explica a analista.
No pilar Promoção do comércio ético, o sistema está integrado no mesmo sistema digital e promove o comércio ético dentro da rede, sendo a avaliação de relações comerciais um dos recursos usados pela rede. Tal avaliação é feita por meio de entrevistas anuais com instituições e empresas para medir a qualidade dessas relações comerciais, em aspectos como: Diálogo; Transparência no acesso às informações; Respeito ao modo de vida das populações; Formalização de contratos ou acordos; Capital de giro; Transferência de tecnologia; e Preço justo. A partir das entrevistas, os dados são registrados e cruzados com as informações presentes na plataforma, para revisão e confirmação. Além disso, são interpretados por profissionais especialistas, para certificar que as relações estão dentro dos critérios de comércio ético da rede Origens Brasil®. Por último, a Governança amarra todos os outros pilares pela tecnologia social. A integração de um território à rede provoca a formalização e organização local, por meio da identificação de lideranças que passam a compor o comitê territorial. A organização em rede e a responsabilidade compartilhada são os princípios da tecnologia social empregada no sistema de governança da rede Origens Brasil®, que é composta pelos comitês territoriais de cada área de atuação, pelo comitê de empresas e pelo conselho gestor da administração da rede. “A integração desses quatro pilares é fundamental para que alcancemos um impacto positivo nos territórios em que atuamos. A tecnologia é colocada a serviço da floresta em pé e de seus povos e deve ser adaptada às suas necessidades. Acreditamos que essa nova versão da plataforma propicia escalar ainda mais a rede e esse comércio ético tão importante para a região”, conclui Mariana. O resultado é um sistema de garantia inovador, que já foi premiado pela Organização das Nações Unidas na categoria A do Prêmio Inovação para a Agricultura e Alimentação Sustentável.