Por que a água da Represa do Guarapiranga está verde?

14/08/2025
A coleta de esgoto não atende a todas as economias resultantes de uma urbanização que ocorreu de forma desordenada, havendo então, pontos de extravasamento de esgoto in natura que acabam sendo despejados diretamente na represa.

No início do século passado, o reservatório Guarapiranga foi construído com o objetivo de gerar energia. Com o crescimento acelerado da capital paulista, passou também a ser utilizado para o abastecimento da cidade. Na época, para a formação da represa, ocorreu o alagamento de uma grande área de baixa declividade, englobando várzeas e trechos de Mata Atlântica, sendo a região, pouco povoada.

Segundo a Sabesp, cerca de 1 milhão de pessoas vivem na região, porém a infraestrutura local não acompanhou este crescimento populacional, apresentando deficiências significativas, especialmente no saneamento básico. A coleta de esgoto não atende a todas as economias resultantes de uma urbanização que ocorreu de forma desordenada, havendo então, pontos de extravasamento de esgoto in natura que acabam sendo despejados diretamente na represa.

O lançamento de esgoto na represa, introduz nutrientes como o nitrogênio e o fósforo, os quais, associados ao clima ameno, abundante luz solar e baixa movimentação das águas, favorecem uma grande proliferação de algas, o que confere uma tonalidade verde à água, além da ocorrência de odores desagradáveis. Esses organismos encontram condições muito favoráveis para estarem no local. O descarte irregular de lixo agrava ainda mais a situação, pois que também contribui com nutrientes. Represas tem características semelhantes a um lago, com pouca movimentação da água e limitada inserção de oxigênio, um elemento essencial para a rápida degradação biológica, contribuindo para a manutenção de níveis elevados de nutrientes, favorecendo ainda mais a proliferação de algas.

Para resolver esta questão é necessário reduzir a carga poluidora que chega no reservatório Guarapiranga, proveniente da drenagem da bacia, o que implica na realização de obras de redes coletoras e o seu encaminhamento para uma estação de tratamento. Ademais, a população deve estar consciente da necessidade de ligar as suas casas às redes públicas coletoras, o que nem sempre ocorre, ou porque optam por ter uma solução individualizada que nem sempre funciona adequadamente ou porque, erroneamente, utilizam a rede de drenagem para efetuar os seus despejos.

A Sabesp lançou em 2025, a última etapa do plano voltado a universalização da coleta de esgoto na região com um investimento próximo de 3 bilhões de reais, contendo como principal objetivo a conexão de 90.000 imóveis ao sistema de esgotamento sanitário. Nesse contexto, estabeleceu não apenas a construção de redes coletoras, mas também, estações elevatórias, além da ampliação da estação de tratamento de Barueri para o recebimento desta carga. A previsão de término das obras está em 2029. (Por: Liliane Frosini Armelin, professora da Escola de Engenharia (EE) na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM))