Projeto recupera região atingida pela tragédia em São Sebastião

09/10/2024
A iniciativa é conduzida pelo projeto “Restaura Litoral Norte”, da ONG Instituto Conservação Costeira (ICC), que conta com financiamento e apoio da concessionária Tamoios

Para a restauração ecológica das áreas atingidas pelas fortes chuvas, em fevereiro de 2023, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, um projeto de dispersão aérea, por meio de drones, e sementes de árvores nativas inseridas em biocápsulas, tem como objetivo germinar e atingir locais inacessíveis e de alta declividade. A iniciativa é conduzida pelo projeto “Restaura Litoral Norte”, da ONG Instituto Conservação Costeira (ICC), que conta com financiamento e apoio da concessionária Tamoios. Na ocasião, o volume pluviométrico atingiu 683 milímetros em apenas 24 horas, provocando mais de 800 pontos de deslizamento. A tragédia causou 64 mortes somente na Vila do Sahy, bairro mais afetado pela tempestade.

Até o momento, foram dispersados 750 kg de sementes, o equivalente a 77 milhões de grãos. O processo de dispersão mensal acontece desde janeiro de 2024 e o projeto priorizou espécies pioneiras, que naturalmente são encontradas na região, como guapuruvu, embaúba, crindiúva, quaresmeira, aroreira pimenteira, entre outras. O uso de espécies nativas da Mata Atlântica mantém a integridade da vegetação e acelera seu restauro. “Esse projeto envolve empresas públicas e privadas, mostrando que a sinergia entre atores engajados é capaz de trazer impactos positivos à sociedade. Além disso, a recuperação de áreas degradadas por meio de formação de florestas é uma oportunidade e uma ferramenta para aumentar a segurança frente à crise climática”, destaca Danilo Leme Souza, especialista de Meio Ambiente da Tamoios.

A região está imersa no maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil a a iniciativa visa restaurar 204 hectares de mata degradada com milhões de sementes de espécies de árvores nativas em áreas de Unidade de Conservação e zonas de amortecimento, com a divisão em sete setores de operação na Costa Sul de São Sebastião (Jureia, Juquehy, Barra do Sahy, Baleia, Toque-toque, Ilhas e Boiçucanga). O processo de semeadura deve ser concluído em novembro. A tecnologia aplicada é inovadora e 100% brasileira, desenvolvida pela Ambipar Group. As biocápsulas sustentáveis, que seriam descartadas pela indústria farmacêutica, são feitas de material biodegradável e o nitrogênio presente na cápsula auxilia na germinação das sementes. O adubo orgânico utilizado tem alta concentração de matéria orgânica funcional, derivado de resíduos de Estações de Tratamento de Efluentes (ETE) do processo produtivo da indústria de celulose e sobras de biomassa.

Desde a tragédia em 2023, a dispersão de sementes tem demonstrado efetividade na recuperação da cobertura vegetal nas cicatrizes. Já foram reflorestados 144,95 hectares e 70% do projeto de semeadura está concluído. Paralelamente estão sendo realizadas ações de Educação Ambiental nas escolas da Costa Sul de São Sebastião, em parceria com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemanden). O objetivo é orientar a população sobre como se prevenir dos riscos existentes na área. “Por meio de palestras, oficinas e ações educativas, esses jovens são capacitados em protocolos para a prevenção de riscos climáticos, como o monitoramento de chuvas e a criação de mapas sobre as áreas de risco. Por consequência, essas atitudes podem ajudar a reduzir sua vulnerabilidade frente às mudanças climáticas e desastres”, explica Fernanda Carbonelli, diretora executiva do ICC.

Além das instituições escolares, o projeto multiplica o conhecimento para os bairros afetados pela tragédia por meio de palestras e oficinas.  “Há impactos positivos para o meio ambiente, por meio da recuperação das cicatrizes, e pelas diversas atividades que são desdobradas para as comunidades. Nós acreditamos que a união de forças transforma a sociedade”, conclui Souza. O projeto “Restaura Litoral Norte” é realizado com o patrocínio da concessionária Tamoios, Gerando Falcões e uma rede de patrocinadores privados, além do apoio do Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público de São Paulo (MP-SP), Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, Fundação Florestal e Prefeitura de São Sebastião.