Estudo da ANA mostra impactos das mudanças climáticas nas regiões

06/02/2024
Esse estudo indica um cenário com tendência de redução na disponibilidade hídrica para quase todo o País

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) lançou dia 31 de janeiro durante uma live o estudo ‘Impacto da Mudança Climática nos Recursos Hídricos do Brasil’, que deu início à Jornada da Água 2024 e revelou o tema do Dia Mundial da Água (22 de março) no Brasil neste ano: A Água nos Une, o Clima nos Move. O levantamento mostra, de forma inédita, considerando a escala de sub-bacia, os efeitos da mudança climática na disponibilidade de água no Brasil e pode ser utilizado como referência para o planejamento e a gestão dos setores de recursos hídricos e de saneamento básico por parte de comitês de bacias, órgãos públicos que cuidam dessa temática, pesquisadores e usuários de água. Esse estudo indica um cenário com tendência de redução na disponibilidade hídrica para quase todo o País, incluindo grandes centros urbanos e regiões importantes para produção agrícola, como a bacia do rio São Francisco, considerando cenários de curto, médio e logo prazo – respectivamente os períodos de 2015 a 2040, de 2041 a 2070 e de 2071 a 2100.

Segundo a publicação, a disponibilidade hídrica pode cair até 40% em regiões hidrográficas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste até 2040. Essa diminuição pode provocar um aumento do número de trechos de rios intermitentes (que secam temporariamente) especialmente no Nordeste e afetar a geração hidrelétrica, a agricultura e o abastecimento de água nas cidades dessas regiões. Por outro lado, o Sul mostra tendência de aumento da disponibilidade hídrica em até 5% até 2040, mas com uma maior imprevisibilidade e um aumento da frequência de cheias e inundações, como vem ocorrendo na região nos últimos anos. As tendências dos impactos da mudança do clima por bacia hidrográfica, indicadas no estudo, são apresentadas na escala adequada para a decisão por autoridades e usuários e podem ser usadas para aprimorar medidas de adaptação a esse cenário a partir do aperfeiçoamento da gestão de recursos hídricos, da busca por fontes alternativas de água, do uso mais racional desse recurso e da infraestrutura diante dos possíveis cenários de mudança climática, tornando as populações mais resilientes a esse quadro.

O estudo da ANA separou as regiões brasileiras e revela que o Centro-Oeste tem a maior divergência entre as tendências das projeções dos diversos modelos climáticos, o que gera incertezas nas condições futuras do clima da região. Para a ANA é necessário avaliar a adoção ou não de medidas que considerem possíveis cenários de escassez hídrica na região, com a necessidade de aprimoramento dos instrumentos de tomada de decisão mesmo sob incertezas. O Centro-Oeste é uma região estratégica por ter nascentes de importantes rios – como o Tocantins, o Araguaia, o Paraguai e afluentes formadores do rio Paraná– e por concentrar grandes áreas de produção agrícola.

No Nordeste, há uma tendência de queda das vazões dos rios e dos volumes médios de chuvas, o que ocasiona uma redução na disponibilidade de água da região e intensificação da seca, tanto no Semiárido quanto na faixa litorânea. O estudo aponta a necessidade de se desenvolver medidas de convívio com períodos de seca mais severos e prolongados, que levem ao aumento da oferta de água e à racionalização dos usos na região semiárida e no litoral nordestino. Já o Norte tem tendência de redução nas vazões e volumes médios de chuvas. A perspectiva é que ocorram secas mais frequentes e intensas na região que abriga grande parte da Amazônia. O levantamento aponta a adoção de medidas de gestão da demanda hídrica no Norte, incluindo o aprimoramento da infraestrutura da região para possibilitar a mobilidade para comunidades mais isoladas que dependem da navegação em rios para se locomoverem e serem abastecidas, além de preparação para a proteção dos ecossistemas em um cenário de maior escassez de água. 

Para o Sudeste, a previsão é de certa divergência entre os resultados dos modelos, mas predomina, sobretudo na faixa litorânea, a tendência de redução nas vazões em função da mudança climática. Isto deverá provocar a diminuição da disponibilidade de água nas bacias hidrográficas do Sudeste. Pelo fato da região concentrar a maior população regional e grandes centros urbanos – como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte –, é necessário investir em estratégias de adaptação à mudança do clima, maior eficiência no uso e na gestão de recursos hídricos e ampliação da infraestrutura hídrica para as populações mais vulneráveis. Por último, o Sul pode ter aumento de imprevisibilidade climática, com eventos concentrados de cheias e secas, e, para combater isso, é preciso adotar medidas de preparação para oscilações desde excesso de água até a escassez do recurso. Será necessário, ainda, adotar medidas de gestão da demanda hídrica e considerar a questão da infraestrutura de proteção contra cheias.

A Jornada da Água 2024 prevê uma série de atividades, campanhas e eventos durante todo o ano. O tema do Dia Mundial da Água para esse ano é ‘A Água nos Une, o Clima nos Move’. Participaram da live de lançamento da Jornada a diretora-presidente interina da Agência, Ana Carolina Argolo; os diretores interinos Nazareno Araújo e Marcelo Medeiros; o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes; o ministro das Cidades, Jader Filho; e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. O estudo completo pode ser conferido no https://www.gov.br/ana/pt-br/assuntos/noticias-e-eventos/noticias/ana-lanca-estudo-sobre-impactos-da-mudanca-climatica-nos-recursos-hidricos-das-diferentes-regioes-do-brasil/resumo-executivo_26012024.pdf