Segundo o sistema Deter-B, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área de desmatamentos somou 581 km2 em abril, um aumento de 42% sobre o mesmo mês de 2020. O número é o recorde da série e chama a atenção que 26% da Amazônia estava coberta de nuvens, portanto invisível ao satélite. É o maior percentual de nuvens para o mês na série iniciada em 2015. Pode haver mais desmatamento escondido, a ser revelado quando o tempo abrir.
Em maio começa o período mais seco na Amazônia e a partir de junho a tendência da devastação será consolidada. No momento não é possível afirmar o que acontecerá, mas pode ser que em 2021 ocorra uma inédita quarta alta consecutiva do desmatamento. Os números do Deter-B desmentem a queda de cerca de 15% nos alertas verificada entre agosto de 2020 e abril de 2021 (e comemorada pelo Governo Federal, como resultado da ação do Exército na Amazônia).
A queda geral de 15% só apareceu nos dados porque os alertas em julho, agosto e setembro de 2019 foram completamente fora da curva — somente em julho de 2019 uma área equivalente a uma vez e meia a cidade de São Paulo tombou na Amazônia. Em contrapartida, janeiro deste ano teve o menor desmatamento de toda a série do Deter, mesmo sem nenhuma operação de fiscalização realizada, devido a um problema burocrático que atrasou a ida do Ibama a campo.
A fiscalização do Ibama está parada devido a mudanças impostas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nos procedimentos de autuação. O processo de punição a crimes ambientais também foi inviabilizado pelo ministro. As ações contra o desmatamento dependem quase exclusivamente agora dos governos estaduais, cujo efetivo e alcance de fiscalização são limitados.
Com isto, as promessas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro na Cúpula dos Líderes sobre o Clima, em abril, não devem acontecer. Pelo contrário, o presidente da câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pautou para maio a votação de um projeto de lei que virtualmente extingue o licenciamento ambiental no Brasil. Obras como o asfaltamento da BR-319 (Porto Velho-Manaus), poderão ser feitas sem a necessidade de estudos de impacto ambiental. "A Amazônia virou um open bar para grileiros, madeireiros ilegais e garimpeiros", afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. "Esses criminosos não têm nenhum incentivo hoje para reduzir o ritmo da devastação. Estão sentindo que esta é a hora deles. E estão ganhando de presente do governo e do Congresso várias tentativas de eliminar a proteção legal às florestas, como a anistia à grilagem e agora o projeto de lei de licenciamento".